29.4.10

Domagoj Vida: analisado... do sofá!

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Depois de grandes manchetes, acabou por ser confirmado na Alemanha. Normal. O que talvez não seja tão “normal” é a badalada viagem de Costinha à Croácia. Pelo menos não parece, porque nestas coisas há sempre margem para os dados desconhecidos. Sem entrar pela linha especulativa, fica aqui uma amostra do jogador. Uma amostra de um jogo em que jogou... a central. Tudo isto em Portugal e sem sair do sofá.

A amostra é curta, mas pelo que deu para ver, o Leverkusen leva um central com boas características físicas e que se mostrou certo em muitos aspectos, ainda que com reservas noutros. Foi um dos melhores em campo, conseguiu um número assinalável de intercepções e um excelente acerto no passe. Aqui, importa referir a ausência de algumas condicionantes que ajudariam a testar o jogador com maior amplitude. Não foi testado em primeiras bolas aéreas e jogou quase sempre sem grande pressão, o que lhe permitiu decidir quase sempre correctamente. A grande dúvida, porém, é dada pela fraca prestação em dois lances em que foi confrontado com bolas na profundidade. Uma coisa me parece claro, porém: Vida era um jogador interessante, mas o nível a que joga e de onde vem não justificam 4 milhões de euros de investimento. Pelo menos na minha avaliação...
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Barcelona - Inter: Tudo isto é futebol

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O interesse do jogo do ponto de vista técnico-táctico ficou reduzido praticamente à nulidade. O mesmo que tem um treino exaustivo de organização ofensiva. Mas terá esse facto feito alguém mudar de canal? Provavelmente não. Este é o primeiro dos outros pontos de interesse deste jogo, e aquele que quero começar por destacar. Pode-se falar de muitas coisas para explicar o fenómeno do futebol, mas o principal, a meu ver, está espelhado neste jogo. Apesar do desinteresse técnico do jogo, a ansiedade e incerteza estiveram sempre presentes. Pode-se apreciar muito o futebol pela sua componente estética, mas quando se diz que o que as pessoas querem é espectáculo, está-se a cometer um grave erro. O que as pessoas querem é emoção, o espectáculo é só a sobremesa.

Em Barcelona a confirmação, em Milão a definição
Guardiola avisou, mas o Barcelona não evitou a armadilha. A dificuldade factual dos campeões europeus se repetirem terá muito a ver com a perda de intensidade destes na edição seguinte. Pois bem, se o Barça não foi capaz de virar a desvantagem no Camp Nou, não é para esse jogo que tem de olhar na hora de avaliar o porquê da eliminação. O Barça teve tudo para bater o Inter. Conseguiu o golo que lhe dava vantagem e com um nível de concentração idêntico ao do seu adversário nunca teria entrado com uma desvantagem de 2 golos na segunda mão. Não foi assim e o crédito deve ser dado ao Inter pelo feito fantástico de eliminar a melhor equipa do nosso tempo.

Filosofia extrema: da coerência à utilidade
O Barça venceu o jogo, mas se o dominou em absoluto também é verdade que mais facilmente este tinha acabado com um nulo do que com 2-0. Pelo menos a avaliar pelo número reduzidíssimo de oportunidades que os catalães tiveram no jogo e, em particular, na segunda parte. Aqui creio que se justifica a discussão. Não a discussão sobre a coerência da opção de Guardiola, de jogar sempre, de nunca forçar um jogo físico na área. Mas a discussão sobre se essa é realmente a melhor solução em situações como a que foi criada. Que outra equipa no mundo teria abdicado de um jogador como Ibrahimovic a meio de um jogo destes? Nenhuma. Qualquer outra teria utilizado o poderio do sueco no jogo aéreo para forçar o Inter a defender dentro da sua área, para criar uma sequência de segundas bolas que inevitavelmente teria resultado em muito mais finalizações do que aquelas que o Barça conseguiu. Concordo com a coerência de Guardiola, mas tenho dúvidas sobre se um filosofia tão extrema será a melhor solução, numa equipa com potencial para variar os recursos.

Futebol não é estética
Sobre o feito de Mourinho – de novo histórico – importa realçar a dimensão que lhe dá a chegada à final “via Barcelona”. É, em si mesmo, tão significativo como o feito da própria final. Haverá quem retire mérito ao Inter pelo jogo que assumiu. Pela sua falta de estética. Mas futebol não é estética. O próprio Guardiola o percebe quando afirma que a sua equipa só será a “melhor de sempre” quando superar os registos de vitórias dos melhores do passado. Futebol é um jogo e tem um objectivo: ganhar. O mérito do Barcelona é a qualidade absurda do estilo que assume e não a estética do mesmo. O mérito do Inter foi, também, a qualidade que apresentou dentro do estilo que escolheu. Com mais de 100 anos de jogo, era tempo de nos deixarmos de sofismas...



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28.4.10

Palavra para Guardiola

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Acredito no seu estilo. Acredito na irrelevância dos jogos paralelos, das aparências e preconceitos que invariavelmente invadem a opinião generalizada. Acredito na importância de uma busca lúcida e incessante pela qualidade, como factor único para o sucesso. No futebol e na vida. Porque Guardiola representa tudo isto, e antes que se saiba se ganha ou não, deixo-lhe a minha palavra...

Uma conferência de imprensa sua mais parece um “briefing” cultural. Gentilmente responde às perguntas de todos, suavemente, sem ponta de agressividade, nem no tom, nem no discurso. Primeiro em catalão, depois em castelhano, italiano, inglês... É assim Guardiola e não custa elogiar. Não custa... porque ganha. Ou alguém acha que seriam muitos a defender aquele jovem, inexperiente e sem currículo, que ainda por cima não evita um discurso mole no antes e depois dos jogos?





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27.4.10

Cardozo, Falcao e Liedson: a jornada dos goleadores

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A julgar pela necessidade de emparelhar todos os jogos da penúltima jornada num mesmo espaço temporal, dir-se-ia que este é um campeonato completamente em aberto. Puro engano. De tal forma as decisões estão por um fio, que o mais provável é nada estar por decidir na última ronda. Nada, excepto o pouco relevante duelo sobre o título de melhor marcador. Não é sobre a contabilidade de golos que quero falar, já que essa fala por si mesma, mas sobre os 3 melhores marcadores da prova, utilizando como ponto de partida os seus dados individuais da jornada.

Seguramente com algum exagero, os números da jornada dizem muito do que tem sido a prova dos próprios goleadores. Em particular, creio que mostram que o número de golos está longe de dizer tudo e que por vezes ele pode ser muito mais o produto de circunstâncias colectivas do que de um grande mérito individual. É o caso de Cardozo. O paraguaio é o mais provável vencedor do título de melhor marcador, mas, um pouco como na jornada 28 (onde actuou fisicamente limitado), o número de golos de Cardozo está longe de fazer dele o melhor 9 da liga. Pelo menos na minha leitura.

Entre os 3, claramente Falcao é aquele que mais se tem destacado e aquele que melhor avaliação merece. Ganhe ou não a competição de golos. O colombiano partilha com Liedson algumas características que os distinguem de Cardozo em termos de perfil. Em particular, a intensidade com que se apresentam constantemente ao jogo. Este aspecto, e apesar da finura técnica do paraguaio, torna-os menos dependentes dos golos para que o seu contríbuto seja, ainda assim, apreciável.



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26.4.10

Leiria - Sporting: Os últimos sinais de Carvalhal

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A proximidade do final da época dita a crescente escassez de oportunidades para ver e avaliar o Sporting de Carvalhal. Esta versão do futebol leonino amplificará a sua pouca relevância histórica com o passar do tempo. Uma consequência, não só do pouco tempo que leva o Sporting com uma marca registrada do ainda treinador e, por outro lado, da pouca importância dos desafios presentes. A avaliação concreta de Carvalhal perante a dimensão do desafio de um “grande” fica, mais do que qualquer outra coisa, adiada. Há coisas boas e menos boas no seu “produto” actual, mas o tempo e condições que lhe foram dadas não são suficientes para isolar alguns enviesamentos.

Enfim, talvez o mais interessante nesta fase seja olhar para o jogo de Leiria, até porque não resta nenhum com este interesse no que há por jogar para o Sporting...

Uma espécie de inexperiência
Fica claro para quem viu o jogo que a principal razão para a não-vitória do Sporting reside sobretudo num desperdício próprio. E “desperdício” não quer dizer apenas ineficácia ofensiva. Quer dizer também dificuldade e incapacidade para manter um controlo constante do jogo. Não foi caso único. Frequentemente vimos, na era Carvalhal, o contraste entre períodos de qualidade e domínio, com esta também identificável incapacidade para manter o jogo dentro do ritmo ideal para os interesses da equipa. São características próprias de equipas mais inexperientes, e ficaremos sempre sem saber se Carvalhal as conseguiria erradicar com outro tempo e condições. Poderia ser que não, mas basta pensar nos primeiros meses de Mourinho no Porto para perceber a diferença que pode fazer um bom planeamento.

As duas faces do jogo
É curioso analisar os dois períodos do jogo. Estranhamente, e ao contrário do que se afirma em função da evolução emocional do jogo, a segunda parte não foi mais repartida em muitos aspectos. Na primeira, o Sporting errou mais e terá tido, na maior parte do tempo, menor domínio territorial. O que acontece é que nesse período o posicionamento do Leiria, mais alto, permitiu ao Sporting dividir o jogo no “miolo”, mas ter sempre mais capacidade para aproveitar momentos de desequilíbrio para chegar com perigo às redes contrárias. E fê-lo, de facto, com frequência.

Na segunda parte, por outro lado, teve uma posse de bola mais trabalhada e aparentemente mais esclarecida, mas falhou no controlo do jogo. O Leiria passou a jogar mais baixo, mas a conseguir muito mais espaço em transição. Algo que, creio, foi intencional, até pelas características de Vitor Moreno, a novidade como falso lateral. De repente, o Sporting perdeu o controlo do jogo, permitindo que este se partisse com frequência e vendo, por exemplo, Silas ter mais espaço para aparecer com qualidade. Para que o domínio do Sporting tivesse mais consequência teria de haver maior capacidade e agressividade na reacção à perda de bola. Ganhá-la imediatamente após a perda era fundamental, mas isso muitas vezes não aconteceu.

Estatísticas individuais
Sem que tenha sido um Barcelona, o Sporting conseguiu um grande número de passes no jogo. Sobretudo, lá está, na segunda parte. A posse do bola verde e branca teve alguns traços característicos, como a dependência do jogo rendilhado dos 3 criativos ou a utilização da qualidade de João Pereira sobre a direita. A diferença entre o número de passes de João Pereira e Grimi foi avassaladora na segunda parte, com o ex-Braga a mostrar o porquê de ter sido uma excelente opção no mercado. Outra disparidade esteve entre Carriço e Tonel. O número de intercepções de Carriço foi amplamente superior ao de Tonel, numa diferença que me fez lembrar o caso entre David Luiz e Sidnei que abordei na semana passada. Também aqui, os números reflectem muito em termos qualitativos. Ainda no Sporting, nota para a elevadíssima participação de Moutinho e Pedro Mendes em termos de construção e para a inconstância de Djaló e Veloso. O avançado participou num grande número de desequilíbrios mas acabou como um dos principais responsáveis pela ineficácia ofensiva. Já Veloso foi também desequilibrante, mas esteve demasiado inconsistente na construção, errando em demasia em situações desnecessárias.

No que respeita à União, o principal destaque vai para André Santos. Foi o mais eficaz no passe e interventivo na recuperação. Silas, o criativo da equipa, começou muito mal em termos de eficácia de passe, mas evoluiu muito na segunda parte, tornando-se no jogador chave que normalmente é, e encontrando em Patrick um aliado frequente sobre a esquerda. Na frente, Cassio voltou a confirmar os seus dotes de jogador de área, mas Carlão impressionou noutros aspectos. Em especial, a qualidade de apoio e capacidade para levar a melhor nas bolas divididas. Mais atrás, o destaque negativo vai para Diego Gaucho. Um jogador fisicamente forte, mas que acumulou erros importantes e uma enorme ineficácia em termos de passe. Neste sector, Zé António esteve muito melhor, mas foi Vinicius quem, de forma discreta, mais rendimento terá conseguido, jogando sempre muito próximo da zona central.



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23.4.10

1982: Paolo Rossi e o "desastre de Sarriá"!

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O desaparecido estádio de Sarriá já não vive para contar a história. Explicar o imprevisível emparelhamento de um “super-grupo” em tão modesto palco seria já de si difícil, mas tudo isso se tornou secundário depois do que aconteceu naquele relvado catalão. Argentina, campeã do mundo. Brasil, unânime favorito. Passarella, Kempes e Maradona. Falcão, Sócrates e Zico. Quem sai por cima? A decepcionante Itália e o improvável Paolo Rossi. O “desastre de Sarriá”, como ficou conhecido um dos mais míticos jogos da História, não tem nada de desastroso. Foi apenas futebol, goste-se ou não.

Ambos haviam batido a Argentina, mas o Brasil por mais um golo, o que lhe garantia vantagem em termos de igualdade. Mas que hipótese teria uma Itália decepcionante contra uma das cativantes equipas da História? As contas pareciam feitas.

O jogo, na verdade, não andou longe das projecções. À excepção dos primeiros minutos, em que a Itália se apresentou bastante bem, foi sempre o Brasil a mandar no jogo. A magia estava alicerçada no corredor central e no tridente formado por Falcão, Sócrates e Zico. A ele se juntavam, sempre sobre o corredor central, o lateral Júnior e o outro médio, Toninho Cerezo. Tudo o resto, ou não interessava, ou interessava pouco. O "truque" do corredor central era tão bom, que o Brasil acreditou que chegaria para vencer tudo e todos. O Brasil, e o resto do mundo.

A derrota brasileira tem motivos e responsabilidades próprias. Certo. Mas tem sobretudo o carimbo de um capricho do destino. Um destino que resolveu trocar o charmoso Brasil por uma Itália eficaz, que se catapultou definitivamente para o título sobre os ombros de um goleador imortalizado pelo que fez naquela tarde. Paolo Rossi.

Rossi terá sido dos jogadores menos participativos no jogo, com a bola sempre longe do seu habitat. A verdade é que mesmo assim teve tempo para marcar 3 golos, falhar outro e ainda participar num quarto, incrivelmente invalidado. Tudo isto nos intervalos do festival ofensivo dos brasileiros. A história do jogo terá sido, no seu todo, uma crueldade para os brasileiros, mas o terceiro golo merece particular destaque. É que o Brasil, depois de longos minutos a tentar, havia finalmente empatado e nos minutos que se seguiram não se vislumbrou qualquer capacidade de reacção dos ‘azzurri’. Pareciam até conformados. A história não é sequer inédita. Canto vindo do nada e... golo.

Não se sabe o que aconteceria ao Brasil de 82 se aquele dia tivesse sido outro, mas também acredito que hoje, num contexto mais exigente, o destino seria analisado de outra forma. A superioridade dos brasileiros não foi posta em causa, mas é inadmissível que se cometam os erros que se cometeram num jogo em que se tem tudo para ganhar.



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22.4.10

Inter – Barcelona: Qualidade, estilo e identidade

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A noite não serviu para por em causa a excelência do futebol ‘blaugrana’. Um jogo pode ser suficiente para definir títulos e campeões, mas nem de perto chega para beliscar o estatuto que este Barça fez por merecer. Mas a noite trouxe-nos, sim senhor, alguns ensinamentos. Um balde de água fria na confusão entre estilo e qualidade. Porque a qualidade não se garante pela estética do estilo, por muito apelativa que ela seja. E porque é possível ter qualidade sob diferentes estilos. Talvez mais importante ainda, porém, seja a conclusão que o próprio Inter poderá retirar das duas recepções aos campeões europeus. Na primeira, desafiou o Barça no seu próprio estilo, numa altura em que o Inter tentava a sua própria mutação estética. Mas a superação e a excelência qualitativa apenas chegaram quando, em vez da estética, o Inter privilegiou a sua própria identidade na busca de um estilo. E esse é o ensinamento maior deste jogo: o melhor estilo define-se pela identidade e não pela estética.

Os números não mentem. O Barcelona foi, em San Siro, a equipa de sempre. Muito mais bola, muito mais passes, num registo de grande qualidade que normalmente chega para levar a melhor sobre os adversários. A verdade é que não chegou para ser melhor. E não chegou porque o Inter percebeu sempre que, não podendo discutir o jogo pela posse, era importante não dar ao Barça os argumentos que normalmente utiliza. Ou seja, a posse é apenas um meio para a equipa conseguir aplicar as armas que realmente ditam o fim dos adversários. A capacidade de desequilíbrio e o pressing asfixiante em zonas altas. Assim, o Inter percebeu que o importante não era discutir o indiscutível, mas sim garantir o essencial. Ou seja, privilegiar a protecção dos espaços importantes, não permitir transições e actuar, ele próprio, no erro do adversário. Na profundidade e na característica dos seus avançados.

E, de novo, os números não mentem. O sucesso do Inter não se mede na posse de bola nem nos passes que realizou. Não era essa a sua causa. Mede-se, isso sim, nas perdas e nos desequilíbrios. Foi isso que distinguiu as duas equipas e foi isso que, realmente, definiu a maior qualidade do Inter no jogo. Não estética, qualidade.

Intensidade: o segredo dos campeões
Para explicar o sucesso falta falar de um último, mas essencial, ponto. A intensidade. Em todo o jogo houve uma diferença de concentração e reactividade que se provou decisiva. Vista e provada na forma como Sneijder cobrou rapidamente o livre que iniciou a jogada do primeiro golo, e atacou a área sem acompanhamento. Na forma como Pandev aproveitou a perda de Messi para explodir em transição. Na forma como Maicon chegou primeiro à zona de finalização nesse segundo golo. Na forma como Motta antecipou o passe de Messi (outra vez ele!) e transformou uma transição contrária no desequilíbrio do terceiro golo.

Uma atitude que resulta da preparação mental, da concentração e da motivação. Dela normalmente se servem os campeões, num tempo em que mais dificilmente a qualidade, “tout court”, chega para ganhar.

Messi, de herói a vilão
Messi, o herói antecipado, foi desta vez o maior vilão. Não tanto por não ter decidido, mas pela forma como as suas perdas ficaram ligadas à decisão do jogo. Também um balde de água fria em tanta euforia. Sobre Messi, é inegável a sua qualidade e capacidade de desequilíbrio, e não questiono a justiça do estatuto de “melhor do mundo” que carrega actualmente. Mas há algo que acredito sobre Messi. Acredito que Messi é também um produto do colectivo do Barça. Sem ele, sem os apoios constantes, as suas decisões tornam-se menos óbvias e os erros bem mais comuns. Em ano de mundial, faço já a minha antevisão: Creio muito pouco no sucesso da Argentina e penso que Messi, pelas expectativas que gera, pode mais facilmente ser a maior desilusão de prova do que a sua maior estrela.



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21.4.10

A opção Paulo Sérgio

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Está longe de ser o pior que podia ter acontecido ao Sporting mas dificilmente será solução suficiente para o momento. Escolher bem, como já tantas vezes escrevi, é o segredo essencial para o sucesso de qualquer gestão desportiva. Pois bem, neste momento escolher bem não basta. É preciso escolher para lá de bem. O motivo? A competição, claro. Por muito que seja reconfortante a ideia de uma independência no caminho para o sucesso, a verdade é que ele depende quase tanto do que se faz como do que os outros fazem. E, neste momento, o cenário não favorece o Sporting. Se o sucesso do Porto se centra nas melhores escolhas que foi fazendo nas últimas décadas, o Benfica vive uma fase em que colhe os louros de uma rara aposta acertada.

Dos elogios que lhe fiz na hora da difícil escolha do sucessor de Paulo Bento, a direcção de Bettencourt confirma que percebeu para quem não se deve virar, mas também que não tem bem clara a orientação a seguir. Não entrar no caminho do “treinador de renome” é já muito bom. Não que haja algum problema em ter-se um bom currículo e reputação, mas porque raramente esse critério leva às melhores escolhas. É, antes sim, uma ilusão que se paga caro. O leque das opções parece, no entanto, ficar-se pelo critério “português, jovem e a indiciar potencial”. Daqui para a frente, para o Sporting, é um tiro no escuro.

Paulo Sérgio tem, de facto, qualidades. Qualidades que explicam o sucesso em praticamente todos os clubes por onde passou. A começar pelo Vitória onde leva um trabalho meritório e com resultados muito positivos. Mas o sucesso, sendo um indicador incontornável no longo prazo, não deve ser tudo. Se o sucesso se explica pelo que tem de melhor, a atitude, o potencial tem as mesmas limitações que as suas equipas revelam no terreno de jogo. Mas vamos por partes...

Primeiro, a atitude. As equipas de Paulo Sérgio são como o discurso do próprio. Ou seja, alicerçam-se numa atitude forte, agressiva e altamente respeitosa perante o jogo e o adversário. Sem bola, o pressing é a marca mais fiel desta mentalidade. Sobe a linha defensiva e adianta a equipa para não deixar o adversário pensar, sempre com grande agressividade sobre a zona da bola. Depois, em transição ou organização, o que mais importa é a intensidade. As armas que escolhe são sempre em função dos recursos e da situação. Um dos exemplos disto é a forma como alterna o sistema de jogo. E aqui, passamos para aquilo que menos favorece o potencial do treinador...

Então o que distancia Paulo Sérgio de um potencial superior? Bem, a forma como reage aos problemas. Sem bola, o pressing sente dificuldades enormes em reagir a uma circulação que fuja à zona inicialmente definida para pressionar. Com bola, não há indícios de uma qualidade que possa ultrapassar consistentemente os blocos mais organizados. Indícios que serão mais concretamente testados nos primeiros jogos de leão ao peito mas que, para já, devem ser considerados.

Por fim, não quero deixar de fazer algumas referências comparativas com outros nomes. Primeiro Paulo Bento, pelas semelhanças óbvias (não só o nome!) com algumas características. Depois Carvalhal, para referir que Paulo Sérgio não justifica a não continuidade do actual treinador. Quanto a Villas Boas, é o exemplo claro de que o Sporting não parece saber exactamente o que medir para as suas escolhas. É possível que se dê aqui um erro histórico. Paulo Sérgio deverá garantir uma boa atitude e, até, uma boa equipa. Mas, para o objectivo que se propõe, “ser campeão”, neste momento, será preciso que ele próprio se supere.



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20.4.10

Académica - Benfica: estatística individual

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O exercicio – laborioso – a que me propus foi fazer um levantamento estatistico individual do jogo de Coimbra. Os resultados são interessantes e, sobretudo, elucidativos em vários aspectos.


Estatísticas colectivas
Para começar, em termos colectivos, fica clara a qualidade invulgar do futebol da Académica. Sem ter tido o domínio territorial durante grande parte do jogo, mesmo assim, é assinalável que tenham sido os ‘estudantes’ quem mais passes realizou (340 contra 311) e, mais ainda, quem melhor % de sucesso conseguiu (76% contra 72%). Isto, contra uma equipa altamente pressionante e bem mais dotada tecnicamente, como é o caso do Benfica. Esta é uma marca clara do invulgar trabalho de André Villas Boas na Briosa.

Se o jogo não parece ter sido resolvido pela qualidade da posse, parece claro que foi resolvido pela capacidade de desequilíbrio. Entre os desequilíbrios ofensivos, contam-se 7 do lado encarnado para apenas 1 da Académica. Isto, apesar das tentativas de remate terem sido idênticas de ambos os lados (11). Fica claro, portanto, o impacto da componente individual na definição do jogo.


O radical Di Maria
Em vários aspectos foi o pior do jogo. Incomparável nas perdas e nos passes errados. Pouquissimas intercepções (4). O outro lado da moeda foi, claramente, a sua capacidade de decisão. 2 desequilíbrios ofensivos que resultaram em 2 assistências para golo. Não fora este pequeno pormenor, teria sido o pior estatisticamente. Sendo assim... foi um dos melhores. É assim o futebol.


Aimar vs Martins
Curioso o impacto do número 10 que, julgo, foi determinante no balanceamento do jogo, antes e depois do minuto 56, em que entrou Carlos Martins. Até aí, Aimar era o jogador mais influente do jogo, com 31 passes completados, apenas 4 errados e ainda 13 intercepções. A partir daí, Martins baixou enormemente a percentagem de passe (16 em 25 tentados), mas destaca-se também a sua muito menor participação em termos de trabalho, com 1 só intercepção. Para além disto, acumulou ainda 2 perdas, enquanto que Aimar não havia concedido nenhuma nos 56 minutos a 10. Em cima de tudo

isto, e a favor de Martins, está o seu pontapé ao poste, constituindo um desequilíbrio ofensivo que Aimar não conseguiu no tempo que esteve na posição. Ainda assim, fica claro em termos estatísticos como é diferente ter Aimar ou Martins na posição mais influente do modelo.


David Luiz vs Sidnei
Outra diferença muito grande entre as estatísticas individuais por posição é na zona central da defesa encarnada. David Luiz foi avassalador em termos de intercepções, mas se é normal ver um central liderar esta estatística, mais estranho é a diferença que consegue em relação a Sidnei. Mais do dobro (28 contra 13). O único ponto onde David Luiz ficou a perder em relação a Sidnei foi nas perdas de bola, acumulando 3 contra 1 do seu parceiro. No que respeita à percentagem de passe, a diferença é também sintomática e que reveladora das discrepâncias entre os dois jogadores neste plano. 75% para David Luiz e 59% para Sidnei.

Nuno Coelho, o relógio
A eficácia é o que se pede a um “pivot” defensivo e, nesse aspecto, Villas Boas não pode estar mais satisfeito com Nuno Coelho. 97% de aproveitamento no passe (apenas 1 perdido em 35), 20 intercepções e nenhuma perda de bola. Do outro lado, já agora, referência para Javi Garcia. Beneficiou de alguma dificuldade da Académica em pressionar a sua zona e conseguiu também números muito interessantes, com 89% de sucesso no passe, 21 recuperações e 2 perdas. Ainda assim, não deixa de ser notável que Nuno Coelho tenha tido melhor aproveitamento do que Javi.


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19.4.10

Académica - Benfica: uma questão... matemática

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O estatuto de melhor equipa nunca precisou de pontos nem liderança. Ainda os dias diminuíam quando se percebeu com clareza que esse era um desígnio apenas justificado pelo Benfica. O título seria, então, uma questão de eficácia e pontuação. Com a vitória em Coimbra, porém, já nem a eficácia tem margem de manobra. O título está agora separado da realidade por uma simples questão de matemática. Só isso. Agora sobre o jogo...

A luta pelo domínio
Face à proposta de jogo de ambas as equipas era normal assistirmos a uma luta pelo domínio que ambos queriam. Foi assim nos primeiros 15 minutos. Pressionar e jogar, para ver quem o faz melhor e erra menos. Sem surpresa, foi o Benfica. Porquê? A resposta tem de passar, de novo, pelos méritos colectivos, mas, desta vez, cai sobretudo na vertente individual. Executar melhor e mais rápido é fundamental e se é possível elogiar-se o papel dos dois treinadores em termos colectivos, há um Universo entre o potencial das individualidades. Foi assim que a Académica perdeu o domínio, baixou no campo e passou a jogar em transição. Isto, assinale-se, sem nunca perder a organização. Aliás, isso pode medir-se bem no escasso número de oportunidades do Benfica.

A importância Javi Garcia
Se na definição deste balanceamento foi fundamental o desempenho individual, há um aspecto táctico que me parece também decisivo. Javi Garcia. Dentro da geometria táctica das equipas, quando naturalmente encaixadas, há um espaço que sobressai. Precisamente o do pivot benfiquista. Os extremos estudantes tinham ordem para defender ao longo do corredor e Eder não podia dividir-se tanto no seu papel defensivo. O resultado foi que Javi jogou mesmo sozinho, encontrando o Benfica nele um pilar essencial para levar a melhor no meio campo.

O minuto 55
Jesus queixou-se de não haver necessidade para tanto sofrimento, mas eu acho que ele se deve dar por satisfeito com o sofrimento que teve. É que o se o jogo se tornou dividido na segunda parte, isso deve-se sobretudo à substituição do treinador. Não é a primeira vez que o refiro, e voltou a carregar na ideia... Aimar é essencial a 10 e não como avançado. Quando Aimar subiu e entrou Martins para o seu lugar, a Académica passou, finalmente, a conseguir jogar. O pressing do Benfica deixou de funcionar com a mesma qualidade e o jogo disputou-se de área a área. Como o Benfica fez o 3-1, poderia ter levado o 2-2. Já não havia domínio. Francamente não percebo o porquê da necessidade de utilizar tanto Martins. Desta vez foi Kardec que entrou mais tarde, mas noutros casos Weldon nem sequer jogou para adiantar Aimar. Perde a qualidade, porque é incomparável o desempenho.

Villas Boas
Os elogios que lhe fui fazendo praticamente desde a estreia mantêm-se. Villas Boas será seguramente melhor treinador com o passar do tempo, mas é, já hoje, um caso raro em termos de qualidade táctica. E não estou a falar apenas do futebol português, porque Portugal está, em matéria táctica, bem na elite mundial. Pode dizer-se que tem feito um bom trabalho em termos pontuais e, mesmo, que tem tido bastante má sorte em vários jogos. Mas não é apenas isso que define o seu potencial. Tal como tantas vezes escrevi sobre Jesus – e sem ser isto qualquer tipo de comparação – é o modelo que mostra a qualidade. E este modelo será capaz de muito, assim que tiver qualidade.

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16.4.10

1978: A inspiração de Kempes

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O retrospecto não poderia antecipar o cenário, mas ele era possível. Para que a Taça ficasse em casa, contra o favoritismo de outras cores de maior tradição e potencial, era preciso um rasgo de inspiração. Algo que elevasse a ‘Albiceleste’ a um patamar inédito no seu historial. E assim aconteceu. Em 1978, na fase final da prova, emergiu uma figura que haveria de arrastar consigo a Argentina até à vitória. Uma bênção divina de um número 10 argentino que inclui mãos e tudo. Cada um no seu tempo!... é de Kempes que estamos a falar.

À partida para a competição, Kempes era a excepção na equipa argentina. Excepção no anonimato geral. É que se nenhum dos seus companheiros havia feito o suficiente para atrair o interesse europeu, Kempes era já uma figura do futebol espanhol. A enxurrada de golos que marcou no Rosário Central motivou o interesse do Valência em 76. Kempes, pode dizer-se, foi bem para além das melhores expectativas e nos primeiros dois anos no futebol espanhol consagrou-se como o “Pichichi” da liga. Este foi o estatuto com que Kempes entrou, aos 24 anos, no Mundial de 1978. Curioso que a prova que o consagrou individualmente parece ter marcado um ponto de viragem na carreira de Kempes. Não que tivesse deixado de ser um jogador importante, conquistando títulos com o Valência nos anos seguintes. Na verdade, porém, nunca mais a sua contabilidade individual foi tão impressionante como nos anos que antecederam a competição.

Embora um goleador, Kempes estava longe de ser um jogador de área. A sua actuação começava normalmente na linha média, para onde baixava à procura de jogo. Daí, Kempes partia em poderosas arrancadas que, juntamente com o seu poderoso pontapé canhoto, eram uma imagem de marca do goleador. E assim foi também no Mundial de 1978. A inspiração de Kempes parecia não ter regressado com ele do Espanha quando, no final da primeira fase, não havia sequer marcado 1 golo. Ora bem, tudo isso mudou nos 4 jogos finais. E de que forma! Kempes saltou do zero para o topo da lista dos marcadores, bisando em 3 dos 4 jogos finais.

A inspiração foi tanta que Kempes até golos defendeu! No importantíssimo jogo frente à competente Polónia, Kempes praticamente decidiu sozinho um jogo que, facilmente, teria tido outro destino. Não só marcou os 2 golos da partida como ainda teve tempo para fazer de guarda redes e protagonizar uma das melhores defesas da prova. Insólito? É verdade, mas o facto é que Fillol defendeu o penalti subsequente e, como na altura as leis eram diferentes, Kempes não sofreu qualquer penalização disciplinar, seguindo em jogo. Bem vistas as coisas, a sua defesa contou mesmo.

A Polónia – que eliminara Portugal na qualificação – foi ineficaz e incapaz de parar a onda argentina, que crescia de jogo para jogo. O grupo foi decidido pelos golos do mais controverso jogo de sempre, entre os anfitriões e o Peru, e que tirou o Brasil da final.

A fotografia é de um Mundial de mangas compridas, de grande luta e sem grandes exibições ou estrelas. As “ganas” da Argentina e a inspiração de Kempes retiveram o título e proporcionaram uma chuva de contratos europeus para os seus incógnitos jogadores. A Argentina passou a entrar na primeira linha do futebol mundial, de onde nunca mais saiu.



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Neymar (5!): perfila-se o "caso" de Dunga

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15.4.10

Lances do dérbi em análise

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Oportunidade João Pereira
Foi a principal ocasião do Sporting e, mais do que isso, a jogada que simboliza a primeira parte. A intenção do Benfica forçar a saída em posse mesmo com o Sporting preparado para a pressão não mudou na segunda parte. O que mudou foi, como expliquei ontem, a qualidade com que cada equipa interpretou as suas intenções.

Mas, se esta jogada serve para perceber o que não esteve bem no Benfica na primeira parte, também servirá para perceber o que melhorou. A primeira fase de construção. E é precisamente por residir aqui, tão baixo, o problema, que o impacto de Aimar não pode servir de explicação fundamental para a diferença após intervalo. É que o 10 entrou para o lado de Cardozo e não tinha – nem teve – como missão baixar tanto no campo. Aimar contribui, naturalmente, pela sua qualidade mas não foi a resposta ao problema que a equipa vinha sentindo. Mas vamos ao resto...


Sobre a jogada, gostaria de destacar 3 pontos:

- Importância de Moutinho. O seu papel é especialmente exigente porque Moutinho tem de decidir entre a pressão sobre o central e proximidade do “pivot”. Nem sempre funcionou bem e se funcionou com alguma frequência é pela qualidade e intensidade do capitão do Sporting. Já várias vezes me referi à importância do 10 moderno ser extensível a todos os momentos do jogo. A sua posição, central no campo, implica que seja forte com e sem bola, em organização e transição. Aqui está um exemplo da importância de Moutinho e, talvez, do porquê da não utilização de Matias Fernandez – goste-se ou não da opção.

- Insistência em Javi. Foi um ponto já sublinhei ontem. Não que queira fazer de Javi a fonte dos problemas do Benfica – que não foi – mas porque a sua posição previsível aliada à falta de alternativas de passe, fizeram de Javi um ponto de referência para o pressing do Sporting na primeira parte. Após o intervalo, Javi foi menos solicitado, com David Luiz a assumir também mais riscos.

- Efeito psicológico. Não derivou apenas desta jogada mas ela também contribuiu. É que o Benfica não começou a partida a acumular erros e estes só se tornaram mais frequentes quando o Sporting ameaçou a baliza de Quim. O efeito da confiança no desempenho técnico é evidente e a importância dos estados emocionais encontra aqui mais um exemplo elucidativo.

1º golo
Há bastante por dizer sobre o golo e, por isso, vamos por partes:

- Djaló e Amorim. Ruben Amorim é figura principal no desequilíbrio fundamental do jogo. O Benfica começa por sentir dificuldades e recorre a um passe longo e de sucesso improvável. É na segunda bola que as coisas se começam a decidir. Não se pode responsabilizar Djaló por um não acompanhamento individual, numa óptica zonal de defesa. Mas pode-se, isso sim, responsabiliza-lo por não ter estado devidamente reactivo na jogada. Se partiu da mesma posição do que Amorim, deveria ter também ter conseguido estar mais próximo do lateral do Benfica na abordagem à segunda bola. Se o tivesse feito, poderia ter pressionado de imediato. É nestes pormenores que se mede a intensidade dos jogadores nos jogos e é neles que, tantas vezes, estes se decidem.

- 2 x 2 mal resolvido – Se Djaló não pressionou, o Sporting posicionou-se bem no flanco, com o ajustamento de Pedro Mendes. O que falhou? Principalmente Grimi. Grimi deveria ter pressionado Amorim e hesitou com o movimento de Ramires. Uma troca defensiva que não se justificava e que não foi percebida por Pedro Mendes. O resultado foi uma passividade da dupla e um excelente aproveitamento de Ruben Amorim.

- Coentrão – Djaló não pressionou, Grimi facilitou, mas, mesmo assim, o desequilíbrio de Amorim não foi suficiente perante uma defensiva bem posicionada. A diferença foi feita do outro lado, no acompanhamento de Coentrão. A importância do papel dos laterais no modelo de Jesus é algo que já venho sublinhando e não é pelo que fazem com bola, mas, antes sim, pela postura agressiva que adoptam em todos os momentos do jogo. Aqui fica mais um exemplo. Há muitas equipas e treinadores que não permitem a subida dos laterais em simultâneo. Este Benfica é um exemplo de que essa não é uma regra sagrada para o equilíbrio táctico.

2ª golo
Vou-me repetir... Concentração, intensidade e, já agora, Grimi. Este é um lance que, embora rápido, é bastante simples... Primeira bola disputada por um dos centrais. O que deve acontecer é a protecção do espaço nas suas costas, com os laterais a fecharem por dentro. A chave do lance está na reacção de Grimi no momento da primeira bola.

Em vez de fechar o espaço, o lateral – tal como João Pereira – fica a pedir um fora de jogo de Kardec. Na realidade este foi um pormenor que passou despercebido à própria realização e não se chega a perceber se o argentino tinha ou não razão. O que importa, porém, é que Grimi sobrepõe o protesto à sua própria responsabilidade e perde por completo o controlo posicional da sua zona. Se Aimar se isola é porque Carriço teve também de sair da sua zona para pressionar Ramires. O que deveria ter acontecido era o brasileiro ser pressionado por Grimi e Carriço mantido o controlo da sua zona.

Outra nota poderia ter a ver com o fora de jogo no momento do passe de Ramires. Nem João Pereira, nem o próprio Grimi tiveram o instinto de subir a linha defensiva. Neste sentido, pode admitir-se uma critica colectiva por não o terem feito – embora seja discutível dada a rapidez do lance – mas não se pode nunca falar de erro individual a este respeito.



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14.4.10

Benfica - Sporting: Um jogo de 2 andamentos

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A diferença entre as 2 metades. Talvez seja este o dilema do jogo. Aimar? É a explicação mais fácil e, como não podia deixar de ser, aquela que mais adeptos colheu. Mas alguém contou o número de vezes que o argentino tocou na bola até ao primeiro golo? Provavelmente não. Jesus retirou importância ao impacto da substituição. Eu concordo. Aliás, como concordo com Carvalhal quando focou a eficácia como elemento chave. Certo. Tudo somado, porém, ganhou quem mereceu, porque se o Sporting mostrou qualidades, também ficou claro que continua a léguas do Benfica. Vamos ao resto...

A minha explicação
Então o que explicou a óbvia diferença de rendimento entre as duas partes? Na minha opinião, apenas uma diferença de rendimento naquilo que cada equipa se propôs fazer. Tão simples quanto isto. Enquanto que na primeira parte, o Benfica quis jogar mas acumulou erros técnicos e perdas, na segunda, esteve mais confiante e certo na primeira fase de construção. O mesmo se pode dizer do Sporting. Ou seja, a intensidade com que pressionou na primeira parte não apareceu no período em que mais precisava. Confiança, concentração e inspiração. Pode-se falar de táctica, estratégia ou opções, mas sem estes ingredientes... nada feito. Quanto a Aimar, a sua entrada representou um acréscimo de qualidade. Óbvio. Mas Aimar entrou para jogar ao lado de Cardozo e não teve uma participação muito intensa até ao primeiro golo, pelo que me parece francamente exagerado apontar a sua entrada como a chave da diferença entre as duas metades.

O pressing e o risco: semelhanças e diferenças
Uma semelhança no jogo: ambas as equipas alicerçaram grande parte da sua estratégia num pressing que impossibilitasse o adversário de jogar. E ambas o fizeram bem.

Uma diferença no jogo: enquanto que o Sporting lidou com o pressing, evitando o risco da perda e jogando longo, o Benfica tentou forçar a saída. E neste risco se definiu o tal balanceamento do jogo, tão diferente de uma parte para a outra. Quando o Benfica tremeu, não conseguiu jogar e permitiu que o Sporting actuasse repetidamente em transição. Quando se saiu bem, conseguiu o domínio territorial que tanto ambiciona, asfixiando o Sporting. Há um pormenor que não evito focar. Na primeira parte, o Benfica recorreu diversas vezes a Javi e o Sporting encontrou nesse ponto uma referência para o pressing. Na segunda, abusou de David Luiz e este abusou do risco. Abusou, podia ter-lhe saído mal... mas não saiu. Não saiu porque é um jogador absolutamente fantástico, que assume por vezes riscos exagerados – é verdade – mas que também tem capacidade para assumir mais riscos do que os outros. E, provavelmente, se não os tivesse assumido, se os tivesse delegado de novo em Javi, o domínio não tinha sido tanto e a segunda parte tinha sido menos diferente da primeira.

A justiça e a eficácia
O Benfica ganhou bem. Pelo domínio que conseguiu na segunda parte e pela diferença que mostrou em termos qualitativos. Particularmente com bola, é uma equipa com outras rotinas e outra confiança para jogar. O Sporting, tendo crescido de forma assinalável em várias vertentes, não tem ainda a capacidade do seu rival para rapidamente criar soluções de passe e desafiar as zonas de pressão que lhe são colocadas. E isto fez toda a diferença no jogo.

Sem prejuízo do que afirmo no parágrafo anterior, há que dar também razão a Carvalhal e à sua valorização da eficácia. A verdade é que, sendo melhor, o Benfica não usufruiu de grandes oportunidades, construindo a sua vantagem nas suas primeiras ocasiões da segunda parte. No futebol, como em quase tudo, o factor sorte é decisivo para o sucesso, e, neste caso, o Sporting poderia ter tido sucesso com um pouco de sorte. Bastaria, por exemplo, um pouco – pouquinho – da sorte que o mesmo Carvalhal teve com o Marítimo neste mesmo estádio...



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Ao Jamor não se vai de... bicicleta!

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13.4.10

Xavi: 6=2x10

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Messi será sempre a capa, o “top of mind” dos marketeers. Um lugar que o mediatismo reservou para o protagonista dos resumos e repetições. Dito assim pode parecer superficial e injusto, mas não é. Pelo menos não penso que seja. A capa atrai-nos mas não nos impede de a folhear, nem, tão pouco, de lá dentro encontrar algo igualmente interessante. A história está feita desses exemplos, casos que justificam o atrevimento de folhear qualquer capa, por mais fantástica que ela seja. O Barça, claro, é uma evidência desta ideia, tantos são os pontos de interesse que emergem atrás de Messi. Entre todos, há um que me parece especial: Xavi.

Se o meio campo fosse uma banda desenhada, Xavi seria, sem dúvida, o maior dos super heróis. Aquele que consegue combinar as características de um 10 clássico e de um 10 moderno, numa fusão tão fantástica que mais parece ficção. Quando olhamos para aqueles quadros tácticos que antecedem os jogos, pensamos que vamos ver uma equipa sem um 10. Na verdade, o que o jogo nos mostra é muito mais do que isso. O Barcelona joga com Xavi, um 6 que é um 2x10. 10 clássico e 10 moderno.


10 clássico
O futebol europeu ter-lhe-á um dia dito: “já não há espaço para ti”. Ao 10 clássico não restou uma de duas opções. A primeira foi a metamorfose. Transformar-se noutra coisa que coubesse nos planos do futebol moderno. A segunda, mais comum, foi o exílio. Como os monarcas vencidos pelas revoluções republicanas, o 10 clássico que não se quis adaptar procurou salvação noutras terras e encontra hoje na América do Sul um paradeiro onde ainda pode ser fiel a si próprio.

O problema da relação entre o 10 clássico e futebol europeu foi um problema de tempo e espaço. O 10 clássico, como qualquer artista, precisava destes 2 recursos para criar. O futebol europeu, como qualquer coisa moderna, tinha tudo menos espaço e tempo. Um problema sem resolução aparente até aparecer o Barcelona e Xavi. Xavi, tal como o saudoso 10 clássico, vem à primeira fase, chama a bola a si e pensa o jogo ao longo de toda a zona central. Como o conseguiu no impaciente futebol europeu? Bom, a resposta está na eficácia. Eficácia colectiva, na capacidade que o Barça, como equipa, tem para lhe dar espaço onde ele parecia não existir. Eficácia individual, na fabulosa qualidade técnica do próprio jogador. É que, como 10 clássico que também é, Xavi precisa de tempo e espaço para criar. O ponto é que precisa de muito menos do que os outros.

10 moderno
Sem tempo nem espaço para o criativo, o futebol europeu deu mais importância ao seu antigo ajudante. Aquele que jogava ao lado do 10, que trabalhava mais e que também era capaz de ser determinante ofensivamente, ainda que sem essa obsessão. Assim se fez o 10 moderno. Um jogador para todos os momentos do jogo, que se envolve, tenha ou não a equipa a bola, e que se distingue pela capacidade de pensar rápido em todos os momentos e pela procura incessante dos espaços.

Ora, Xavi é também tudo isto. Sem bola, tem um papel fundamental na forma como a equipa pressiona, quer em organização, quer em transição. É ele que se aproxima do 9 para retirar tempo e espaço à construção contrária e é ele que prepara a perda de bola, mantendo-se sempre na zona da jogada. Com bola, como qualquer 10 moderno, tem uma qualidade de movimentos que privilegia a procura de liberdade em zonas fundamentais, como o espaço entre linhas e a zona de finalização.



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12.4.10

Real Madrid - Barcelona: Um "clásico"... pouco "super"

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Desilusão talvez seja um termo forte para tanta qualidade. Ainda assim, para mim, faltou-lhe sal. Todos projectavam o domínio da componente ofensiva do jogo. De parte a parte. Era óbvio, tão óbvio... que não se confirmou. A verdade é que o jogo se decidiu nas duas únicas oportunidades da primeira hora. Uma surpresa. Levou a melhor o Barcelona porque foi mais concentrado e eficaz nesse período e porque foi, aí sim, bem melhor depois. Tudo somado, e parece estranho, era do Barcelona que esperava mais.

Pressing, a força dominante
Não se pode falar em modelos idênticos, mas há algumas coisas que aproximam as 2 equipas do ponto de vista táctico. Sem bola, ambas fazem do pressing e da defesa alta um meio para a ambicionada recuperação. Ora, esse foi o elemento dominante na primeira parte. Intensidade, pouco tempo e pouco espaço. Ambas responderam com as armas que tinham. Ou seja, trabalhando a posse de lado do Barça, e esticando mais o jogo do lado do Real. Nenhuma esteve brilhante e nenhuma conseguiu, realmente, vencer o pressing.

O jogo táctico
Houve algumas nuances interessantes no jogo. Pellegrini pareceu preocupado com Alves e com a largura à direita. Tão preocupado que colocou Marcelo colado à linha, com ordem para não fechar por dentro. Um posicionamento estranho, que ofereceu mais espaço na zona central e que se tornou especialmente inútil quando Guardiola optou por começar com Puyol na lateral.

Mais à frente, Ronaldo apareceu sistematicamente sobre a esquerda. Outra condicionante importante. É certo que o português rende mais a partir desse lado, mas também é um facto que era aí que o Barça contava com as suas mais fortes individualidades. Se em vez de Piqué, Ronaldo tivesse encontrado mais vezes Milito em duelos individuais, talvez o Real tivesse um pouco mais de hipóteses...

Barça quase bloqueado
Um dos aspectos que mais espantou foram as dificuldades do Barça em ter a bola na primeira parte. Mérito do Real, que conseguiu uma primeira parte de grande intensidade táctica e que, diga-se, se viu a perder de forma algo cruel. Mas, também, fica a sensação de que algo não correu bem no Barcelona. Talvez demasiadas ausências e demasiadas mexidas sejam a justificação para uma perda de velocidade na circulação. Uma ideia que ganha força com o enorme crescimento verificado com Iniesta em campo. Isto, mesmo contando que a cabeça do Real já não era a mesma nesse período.

Bola nas costas
Chegamos ao vídeo e às jogadas do jogo. Praticamente todos os desequilíbrios resultaram de bolas colocadas nas costas das defesas. Uma consequência normal da forma como as equipas defendem e, também, um tipo de jogada que já várias vezes aqui tenho abordado.

Antes de mais, convém referir que é muito complicado defender tão longe da baliza e que poucas são as defesas que mantêm uma performance elevada nesse comportamento. Sobretudo contra equipas destas. O fora de jogo pode ser uma arma táctica fantástica, mas é também difícil de operacionalizar com qualidade. Já agora, convém não confundir o que é jogar em linha com meio campo nas costas e jogar em linha em cima da grande área. São coisas completamente diferentes.

Entre as jogadas em análise, há alguns aspectos que quero destacar:
- Falta de concentração no primeiro golo. O desequilíbrio acontece à frente da defesa, com Xabi Alonso a ficar perante Messi e Xavi. A origem está no posicionamento demasiado largo do bloco do Real, mas, principalmente, na reacção que ambas as equipas têm a uma falta assinalada. O Barcelona marca rápido e parte para uma combinação que está perfeitamente sistematizada. O Real, por outro lado, fica a protestar e perde o tempo de pressing. Um exemplo da importância de estar sempre ligado durante o jogo.

- Liberdade sobre Xavi. Todos os lances do Barcelona resultam de passes de Xavi. Para jogar alto é preciso uma linha defensiva muito organizada e concentrada. Certo. Mas não basta. É preciso também condicionar o passe. Se o jogador que vai fazer o passe tiver espaço para definir o tempo da jogada, dificilmente deixará de ter sucesso. Naturalmente, com um jogador como Xavi esse tempo torna-se bem reduzido, mas isso não invalida alguma aparente falta de preparação da parte do Real.



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9.4.10

Liverpool - Benfica: goleada de detalhes

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Bem... não se pode falar propriamente em surpresa. Afinal, quando o próprio treinador questiona a preparação da sua equipa para um jogo desta dificuldade, que resultado se pode esperar? Um desperdício, reforço eu, porque a qualidade deste Benfica merecia mais ambição. É evidente que a eficácia foi essencial e até se pode aceitar algum sentimento de injustiça pela volumetria do resultado final. Não menos evidente, porém, é a desvalorização drástica desta equipa aos olhos do mundo. É que para quem vê de fora, a prova dos nove faz-se é nestes jogos.

As mexidas de Jesus
Nem era preciso ver o jogo. Se o Benfica perdesse, desse por onde desse, as criticas iriam cair sobre as opções do treinador. É sempre assim. Na verdade, percebendo o porquê do desvio de David Luiz, não posso deixar de o considerar extremamente arriscado. Se o brasileiro dava bem mais garantias do que Coentrão para disputar as primeiras bolas aéreas com Kuyt (este terá sido o motivo mais importante para a alteração), mexer tanto na linha defensiva seria sempre um risco especial. Digo especial, porque a importância da movimentação do fora de jogo é essencial neste Benfica, era essencial frente a este Liverpool e, de facto, foi essencial no jogo.

De resto, enquanto que a opção por Aimar na frente não era nova, ficou por perceber o porquê da ausência de Maxi. No que respeita ao argentino, esta é uma solução sobre a qual já me havia confessado reticente. Na prática, o Benfica jogou sem aquelas que serão as suas maiores referências, por sector, no modelo base. David Luiz, Aimar e Saviola.

A importância do primeiro golo
Apesar das alterações e apesar da impossibilidade de recuperar e preparar melhor o jogo, o Benfica entrou bem. Dividiu o jogo e revelou-se mais forte – como é – em termos tácticos. Em especial nos 2 momentos de organização, já que em transição nunca se impôs. Nada justificava o primeiro golo que, nas mesmas circunstâncias, poderia ter acontecido no outro lado. É assim o futebol. Redondo como a bola.

A verdade é que esse golo foi importantíssimo. A partir daí, o Liverpool alterou. Aproximou Torres e Gerrard dos médios, reduziu o espaço entre linhas, e passou jogar como gosta e melhor se sente. Ou seja, com um fortíssimo pressing baixo e com uma transição preparada para explorar os momentos de inocência do adversário. Se o Benfica estivesse ciente dos perigos desta estratégia, talvez tivesse evitado o descalabro. Assim, como não estava, acabou goleado enquanto se entretinha com um domínio ilusório...

Goleada de detalhes
É inevitável recordar alguns duelos europeus onde o Liverpool se impôs num passado recente. Duelos onde a qualidade é insuficiente. Tudo se joga no detalhe e na concentração. Quem não chega a estes momentos devidamente preparado, quem vai jogar de cor, normalmente dá-se mal. É por isso que, ou se tem uma equipa como o Barcelona, a milhas da concorrência, ou a única boa hipótese de se triunfar na Europa é através da preparação minuciosa dos jogos. É por isso também que esta goleada de detalhes se começou a definir bem antes do apito inicial.



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Não é possível!

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8.4.10

Os golos e... os árbitros

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Sendo um tema que procuro evitar, há certas coisas que me merecem alguma reflexão. Esta é uma delas. O número de golos por jogo. Será normal que haja tão grande discrepância entre esta estatística de árbitro para árbitro? A mim parece-me que não. Parece-me que as diferenças verificadas vão bem para além do que seria expectável.

Passo então a explicar a tabela que suporta a discussão. Nela estão os jogos disputados nas ligas profissionais (Vitalis e Sagres) desde o inicio da época anterior. Para além disto, na tabela estão apenas os árbitros com mais de 25 jogos neste período.

É normal que os números não sejam todos idênticos. É normal que haja a influência do factor aleatório num número total de jogos que não vai muito além das duas dezenas. O que não me parece normal – e repetindo-me – é a dimensão das discrepâncias.


Repare-se, entre as actuais equipas nestas 2 provas, o Benfica é a equipa que mais golos tem em cada um dos seus jogos (3,2), estando a Naval no extremo oposto (1,8). Ora, porque cada equipa tem as suas forças, fraquezas e especificidades, é natural esta diferença. Não tendo, supostamente, uma influência no número de golos, os árbitros deveriam ter uma variabilidade muito mais suave do que a das próprias equipas. Deviam... mas, espantosamente, não é isso que acontece.

Para que haja um referencial comparativo, numa análise semelhante à Premier League, vemos que as discrepâncias não são minimamente comparáveis. Se em Portugal, entre os 3,2 de João Capela e os 1,7 de Luis Reforço, chegamos a uma variabilidade de 63% em relação à média. Na Premier League, esta variabilidade é de... 23%!

A não ser que os avançados se inspirem com uns e os guarda redes com outros, o que estes dados apontam é para uma grave diferença de critérios entre os árbitros em causa. Não sei se alguém já o fez, mas... alguém devia olhar para isto.



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7.4.10

1974: A revolução Cruyff

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A força da Laranja era como o seu futebol: Total. Uma mecânica colectiva, é certo, mas que não deixava de contemplar diferenças claras entre os protagonistas. Tão claras, que nem as camisolas eram iguais. Isso mesmo! A estrela, Johan Cruyff, tinha menos uma risca preta na camisola laranja. Ele era Puma, os outros Adidas. Foi assim em 1974, com o mundo de olhos postos nesse futebol revolucionário, dividido entre as proezas de um colectivo e a mestria de uma individualidade.

Quem saiu do Parkstadion de Gelsenkirchen, naquele inicio de noite chuvoso, nunca imaginaria o destino da final que 4 anos mais tarde haveria de ter lugar em Buenos Aires. A verdade é que o que acabara de ver era, precisamente, a antecipação dessa final de 78. As semelhanças acabam aí, no nome das equipas, porque o destino do jogo não poderia ser mais diferente.

Numa demonstração de força impressionante, a Holanda atropelou uma Argentina impotente desde o primeiro minuto. Muito se fala da totalidade do futebol laranja, explicando-se o termo pela liberdade funcional dos jogadores, autorizados a trocar frequentemente de papeis durante os jogos. Sem dúvida uma marca inédita e, provavelmente, jamais repetida. A verdade é que essa não era a única inovação da máquina holandesa. O futebol que então apresentou é um esboço daquilo que fazem hoje as muitas das grandes equipas, e representou um salto de gigante em relação a tudo o que antes se havia visto. Não menos importante do que a mobilidade com bola, eram aspectos como a pressão e a linha defensiva, que permitiam à equipa jogar alto e conseguir um número absurdo de recuperações no meio campo contrário. Aliás, esta é a base de uma filosofia que hoje encanta em Barcelona, onde jogou e treinou Cruyff e onde treinava, também, nesta altura o próprio Rinus Mitchels.

A equipa holandesa era formada por um misto das escolas do Ajax, sobretudo, e Feyenoord. Cruyff era a grande estrela, recentemente emigrado para o Barcelona. No papel, Cruyff aparecia como o jogador mais adiantado, o 9, mas na prática não era isso que acontecia. Na realidade, a liberdade de Cruyff fazia dele um jogador diferente em cada momento do jogo. Se a equipa partia em transição, ele era, aí sim, a referência mais adiantada. Se, pelo contrário, a equipa estivesse em organização, ele tornava-se num organizador de jogo. Caprichos tácticos para o jogador mais evoluído entre todos. Cruyff era o que trabalhava menos, mas era aquele que mais rendimento garantia quando a equipa ganhava a posse. Executava com os dois pés, era capaz de acelerar e temporizar, de driblar ou passar. Tudo com uma elegância difícil de igualar num jogo centenário.

O jogo frente à Argentina foi o primeiro da segunda fase de grupos. Uma inovação da época, entretanto abandonada. Quem vencesse o grupo, entre Holanda, Brasil, Argentina e Alemanha Oriental, chegaria à final. Os 4-0 desta partida acabaram por ser importantes na caminhada até à final. No último jogo do grupo, a Holanda defrontaria o Brasil, numa partida célebre, e graças à diferença de golos, sabia que o empate lhe bastaria. Na realidade, os holandeses bateram os campeões do mundo, novamente com Cruyff em principal destaque, carimbando assim a presença na final. A sua derrota no derradeiro jogo é a evidência de que nem sempre são os melhores a vencer, mas também que nem só os vencedores são recordados como os melhores.



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6.4.10

Naval - Benfica: Valha-nos a emoção...

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Não há melhor motivação para a memória. A emoção. É por isso que esta, entre todas, será das vitórias mais fáceis de recordar pelos adeptos encarnados quando tiverem de olhar para trás, para a liga 09/10. Não pelo elevado número de golos e muito menos por um brilhantismo que, do ponto de vista técnico, não existiu. Será sempre pela sensação vivida e pela libertação de um receio que subitamente se agigantou com aquela entrada alucinante e inesperada. A emoção é o que marcará a lembrança deste jogo. Ainda bem, porque pouco mais trouxe de recomendável...

Os deuses devem estar loucos!
A primeira parte é digna de um filme. Um Benfica a entrar mal em todos os momentos do jogo, punido severamente por um inspiradíssimo avançado peitudo. Fábio Júnior. Mais um pára-quedista que nos vem provar a infinidade do potencial do futebol brasileiro. Não foi só pelos lances dos golos, mas bater David Luiz em potência e fazer Maxi parecer um veterano a pedir a reforma, no mesmo jogo... não é para todos.

Naval: O “autocarro”... afinal o que é isso?
A película não acaba aqui. É fácil elogiar a reacção encarnada, mas, do meu ponto de vista, há bem mais demérito da Naval no que se assistiu. Inácio deixou transparecer alguma satisfação por não se poder identificar na Naval a famosa estratégia do “autocarro”. Eu pergunto, o que é afinal isso do “autocarro”?! Será que uma equipa que encaixa 4 ou 5 golos deve ser elogiada em relação a uma outra bem mais eficaz defensivamente?! É de mim, ou isto não faz sentido nenhum?!

A Naval baixou, encostou-se à sua área e não pressionou a primeira fase de construção do Benfica. Utilizando um verbo que se adequa e, no caso, encaixa especialmente com o nome: a Naval afundou. Tacticamente, isto é. Mas esse não foi o problema. O problema é que, mesmo perante um Benfica bem mais errático que o costume, a defesa figueirense foi um autêntico passador. Quando tinha tudo para conseguir um resultado épico, a equipa errou de forma sucessiva e primária, abrindo o caminho à reviravolta.

Em suma, não há nada de errado em perder com uma equipa amplamente superior. Muito menos, em escolher-se o caminho que se acha mais adequado para levar os seus objectivos a bom fim. O mesmo já não se pode dizer, porém, da forma quase amadora como se deitou fora uma vantagem tão preciosa como improvável. Quanto à reacção de satisfação posterior pela suposta ausência de “autocarro”, errado é uma classificação que me parece simpática. E prefiro não me alongar na escolha de um melhor adjectivo...

Benfica: A reviravolta e... quase nada
Os elogios ao futebol do Benfica, da minha parte, começaram cedo e foram-se alongando pela época fora. A qualidade não se perdeu, ainda que tenha caído com mais frequência nos últimos tempos. Neste jogo, no entanto, encontro mesmo poucos motivos para elogios. Talvez mesmo, o pior da época. O modelo táctico é excelente, claro, e não mudou. A qualidade individual existe, mas, salvo raras excepções, não se sentiu. De resto... quase nada.

A entrada foi horrível. Quase todos os jogadores falharam passes, muitos deles na primeira fase de construção e nem a defender estiveram dentro dos parâmetros normais. Mesmo depois do empate, a Naval voltou a conseguir ter lances de enorme perigo. Na altura do 2-3, aliás, era a Naval quem parecia mais perto. Valeu um momento de inspiração (notável!) de David Luiz e a intervenção do melhor do Benfica, Di Maria, para um golo muito importante . Foi a partir daí, e em particular na segunda parte, que o Benfica, conseguiu, finalmente, controlar o destino do jogo. Isto, apesar das facilidades que, como já referi, lhe foram concedidas.

Parece preocupante...
Para o jogo de Liverpool: Parece preocupante alguma sobranceria da equipa nas entradas dos jogos, levando a um número atípico de erros. Parece preocupante não ter Saviola. Parece preocupante ter um Aimar num momento de forma muitíssimo distante do que se lhe viu fazer em grande parte da época. Parece (sobretudo!) preocupante que Jesus tenha utilizado o final do jogo para antecipar uma desculpabilização de um mau jogo que, afinal, ainda nem sequer aconteceu.



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5.4.10

As emoções de Carvalhal

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Começa por revelar a sua humildade e gratidão para com o clube. Depressa, porém, entra num outro patamar sentimental. Para sarar algumas feridas no orgulho, puxa pelos galões do seu trabalho, ao mesmo tempo que recorda as dificuldades do mesmo. O próximo passo leva-o um pouco mais além em terrenos de amargura, ao confessar-se consciente de que tem o grupo do seu lado. O último degrau desta viagem sentimental dá-se com a repetição da profecia de um título para breve e... de preferência em Portugal.

Da gratidão a uma espécie de vingança, em poucos minutos, na mesma conversa. Um rodízio emocional que, bem vistas as coisas, é tudo menos surpreendente.



Carvalhal: Afinal quem sai por cima?
Para o resto do mundo, Carvalhal era um treinador sem créditos, demasiado marcado pelos falhanços recentes. Mas Carvalhal era, claro, bem mais do que isso e quem o reconhecia tinha motivos para acreditar num bom percurso. A começar pelo próprio. Carvalhal terá feito do Sporting um objectivo pessoal, e empenhou-se em mudar um destino que lhe parecia traçado desde a primeira hora. Sabe-se agora que não o conseguiu. Que as adversidades acabaram por ser mais fortes em momentos marcantes do seu percurso e que isso se revelou, afinal, decisivo.

É de tudo isto que resulta o misto sentimental de Carvalhal. Ou seja, da gratidão pela oportunidade, passando pela frustração do desfecho, até à necessidade de provar a injustiça do destino que lhe foi traçado. Compreensível.

Na verdade, há pouco de factual que sustente com firmeza o trabalho do treinador. Resultados, isto é. Com Carvalhal, o Sporting não fez um grande percurso no campeonato, foi eliminado com a expressividade que se sabe das taças internas e, na Europa, não foi também capaz de corrigir a época com uma grande campanha. Para quem acompanhou o processo, porém, fica claro que havia pouco mais que Carvalhal pudesse fazer. As melhorias no futebol praticado, a recuperação do entusiasmo e empatia com a bancada são, desde logo, méritos que não eram óbvios perante tantas adversidades. O seu trabalho não está concluído, falta a sempre importante última impressão, mas Carvalhal tem tudo para sair reforçado de Alvalade. Será mesmo quem mais poderá ficar a ganhar com esta inesperada relação.


Sporting: O bom sinal de Bettencourt
O Sporting decidiu bem. Carvalhal foi, como destaquei na altura, uma opção surpreendentemente positiva. Esta pouco óbvia e sagaz escolha é, aliás, a grande fonte de esperança que dá a liderança de Bettencourt. Escolher bem é, e foi sempre, o grande segredo do sucesso para qualquer direcção. Ora, se o Presidente leonino tem vacilado noutras áreas, nesta, tão importante, deu indicações surpreendentemente positivas.

Se prescindir de Carvalhal é a opção correcta? Bom, como sempre afirmei, uma substituição só se completa com a entrada de alguém. Neste sentido, a avaliação da decisão só pode ser feita depois de se saber que solução terá Bettencourt para apresentar. Ficamos, portanto, à espera do que está para lá dos rumores.



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2.4.10

Benfica: o perigo do "business as usual"

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A natureza do desafio força a constatação: a vitória foi brilhante. Foi. Mas foi-o muito mais por isso, pela natureza do desafio, do que propriamente pela superação da própria performance. Ou seja, o Benfica ganhou, mas numa espécie de modo “business as usual” e não na plenitude daquilo que pode fazer. Aqui entra o risco da questão. É que se o Benfica é de facto excelente, é também perigoso deslumbrar-se com a excelência dos seus próprios mérito. É perigoso não perceber que a maior qualidade individual não está do seu lado. É perigoso o “business as usual”.

Melhor como colectivo. Mas apenas.
O Benfica é melhor que o Liverpool do ponto de vista táctico. Movimenta-se melhor, pressiona melhor, reage melhor em cada um dos momentos do jogo. Mas, se isto já não é pouco, a superioridade encarnada fica-se por aí. O potencial individual, a experiência e capacidade para definir nos pormenores, estão do lado do Liverpool. A prova disso é o próprio jogo da Luz.

O vulgar “jogo-a-jogo” é uma ideia simpática e, até, uma via não impossível. A realidade, porém, é que as hipóteses só são realmente boas se houver jogos mais importantes do que outros para quem define o planeamento. É isso, de resto, que nos diz a história recente da competição e é isso que não deve ser ignorado na hora de pensar o “assalto” europeu.

Aimar e a ausência de Saviola
Um problema maior. Como manter a qualidade num período chave sem uma das referências maiores para esse objectivo? Jesus escolheu adiantar Aimar. Eu discordo. Se Saviola e Aimar são peças fundamentais em cada uma das suas posições, substituir um, desposicionando o outro, parece-me, faz a equipa perder o melhor de cada um. Mas há outra coisa que não se pode deixar de notar. Saviola é insubstituível em termos qualitativos. Certo. Mas, no fim de uma época onde houve Keirrison, Weldon, Nuno Gomes, Kardec e Eder Luiz... ter de desposicionar Aimar?!

Nota: a preparação mais detalhada dos jogos a que faço apelo no texto não tem a ver apenas com opções individuais. Está, isso sim, nos detalhes tácticos.



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1.4.10

Barcelona, a asfixia 'blaugrana'

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Porque é que o Barça não matou o jogo e a eliminatória naquela fantástica primeira parte? Talvez, digo eu, por ser uma equipa humana, não perfeita. Algo que deverá preocupar Guardiola. O que me motiva neste momento, no entanto, é falar da asfixia. Isto é, daquele futebol fantástico com que o Barça torturou o Emirates. O “tiki taka” salta à vista de qualquer um e será sempre essa grande marca da melhor equipa alguma vez já vista, mas não chega como explicação. Nenhuma equipa é tão forte apenas por ser boa quando a bola lhe chega aos pés. É melhor olhar um pouco mais... para o que eles fazem quando perdem a bola... assim sim, se completa o puzzle.

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