8.6.09

Albânia - Portugal: Mesmo a ganhar, o desespero contínua!

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Um pequeno milagre saiu da cabeça de Bruno Alves e resgatou Portugal de mais um resultado embaraçoso nesta desastrosa fase de apuramento. Dizer-se que este era um jogo de “tudo ou nada” é errado. Errado porque com a vitória Portugal não está minimamente do perto do “tudo” e porque mesmo que não tivesse ganho, não ficaria ainda, definitivamente, com “nada”. Tudo porque, minutos antes em lugar bem distante, a Dinamarca dava um passo que, esse sim, a coloca com praticamente “tudo” no que respeita ao primeiro lugar.

Enfim, esta foi uma vitória que, embora importante, teve o condão de voltar a evidenciar os problemas de uma Selecção que tem um rendimento muito aquém do que era possível e exigível. Algo que não pode continuar a ser negligenciado com uma fuga para a frente porque, mesmo que Portugal afirme a sua maior valia e se consiga apurar, com esta filosofia acabará, seguramente, por nunca encontrar o melhor rendimento...


Determinação individual e incapacidade colectiva
Há pessoas que teimam em levar os problemas do rendimento da Selecção para uma questão de atitude individual. Pode (e terá seguramente acontecido no passado) ser o caso de um jogo ou outro, mas não é esse o problema de fundo. Estes jogadores são quem mais ganha com a participação numa fase final de um Mundial e são eles os maiores interessados em garantir o apuramento. Isso foi bastante visível neste jogo, onde se sentiu sempre uma grande vontade individual dos jogadores, mas em que também ficou por demais evidente a dificuldade de Portugal levar a melhor sobre uma Albânia que manteve uma estratégia de jogo muito defensiva, mas completamente legitima, e que com ela conseguiu sempre ser mais forte do ponto de vista colectivo, acabando por, com o tempo, neutralizar a tal vontade individual e afastar Portugal do golo.

Os problemas...
Em contraste com a determinação, houve do ponto de vista individual uma normal e absolutamente compreensível ansiedade que aumentou com o tempo. Para além deste problema circunstancial e psicológico, Portugal teve outros, colectivos, tácticos e, esses sim, mais graves.

Em primeiro lugar, falar das opções de Queiroz. É óbvio que Pepe no meio campo foi prejudicial, não colhendo sequer o argumento da estatura para um jogo em que o domínio territorial era um dado adquirido. Pepe fazia, naturalmente todo o sentido como central, neste jogo mais do que nunca, por ser um jogador muito rápido a recuperar e por Portugal ser obrigado a jogar com espaço nas costas. Ainda assim, se a ideia for fazer desta uma estrutura permanente, então não posso ser muito critico, já que entendo que é importante voltar a uma aposta mais contínua. Questionável é ainda a utilização de Hugo Almeida, mantendo a ideia que não tem o perfil ideal para o jogo da Selecção, que retira mobilidade ao ataque, que não potencia o melhor de Cristiano Ronaldo e que há outras soluções mais válidas que estão a ser negligenciadas por Queiroz. O caso mais disparatado, no entanto, é Boa Morte. Só Queiroz poderá explicar o que pretendia com Boa Morte, mas a sua utilização neste jogo em particular tinha tudo para correr mal. Boa Morte é um jogador que se distingue dos outros extremos portugueses pela maior capacidade de choque e combatividade, e por uma maior verticalidade ofensiva. Num jogo em que o espaço seria, mais do que previsivelmente, encurtado pelos albaneses, que sentido faz a sua utilização?!

Se as opções não facilitaram a tarefa e se o momento de Deco também não ajuda uma equipa que se movimenta muito em função da capacidade criativa do “mágico”, há outros princípios que não foram respeitados e que merecem uma critica feroz. O que ficou sempre notório no jogo foi que a Albânia conseguiu sempre ter superioridade numérica nas diversas zonas onde a bola entrou. Portugal não pode estar dependente, por muito talentosos e criativos que sejam os seus jogadores, de situações de 1x2 ou 1x3 em pouco espaço. Foi quase sempre assim durante o jogo, destacando-se os momentos em que a bola entrou nas zonas laterais e onde houve sempre poucas soluções criadas ao portador da bola.

Nota para os golos. No primeiro, Bosingwa consegue levar a melhor num 1x1 e só consegue algum espaço para o fazer porque Ronaldo acabou por atrair os adversários para compensar um possível drible, acabando por libertar depois no lateral. No golo da Albânia, aconteceu precisamente o que Portugal nunca conseguiu no ataque. Ou seja, 2x2 na ala com muito espaço entre os jogadores nessa zona e os restantes defensores. A Albânia aproveitou, criou a situação de cruzamento e depois tirou partido da pouca aptidão de Duda no jogo aéreo, quando até tinha um posicionamento correcto, ganhando a frente do lance. Finalmente, no golo decisivo, nota para a mais do que reconhecida capacidade aérea de Bruno Alves. É um jogador praticamente imbatível quando tem tempo para ler a trajectória da bola, impondo-se pela estatura, tempo e capacidade de impulsão. Não é, no entanto, tão forte em cruzamentos tensos, por não ser particularmente rápido e ágil a reagir. O facto do cruzamento ter sido largo foi, por isso, fundamental.

“São Bruno Alves”... de novo!
O que dizer do momento deste jogador?! Foi considerado por muitos o melhor do campeonato e, se em termos técnicos tal eleição pode ser muito questionável, a verdade é que o seu impacto como líder foi enorme ao longo da época. Destaquei aqui a sua “palestra” para os adeptos no final do jogo da Figueira da Foz como o momento da época portista e, agora na Selecção, volta a ser decisivo no campo mas também fora dele. Saiu abraçado a Queiroz e se devia ser o treinador a ter a capacidade para motivar as “tropas” nos momentos difíceis, talvez Bruno Alves tenha conseguido aqui mais um momento marcante e uma prova do seu crescimento como líder...


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