15.4.09

Chelsea - Liverpool: atípica festa do golo

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Tinha falado da maior propensão do Chelsea de Hiddink para os golos em jogos deste calibre, mas naturalmente estaria longe de prever um cenário como aquele que se assistiu em Stamford Bridge. Um 4-4 é tudo o que os adeptos em geral desejam ver e, a este nível, é de facto um desfecho raro. É por isso que este jogo ficará na memória de quem o viu, não pela excelência do futebol, mas, essencialmente, pela chuva de golos e pela incerteza por eles provocado.

Um resultado deste género só se pode explicar pelo lado emocional e pela perda do controlo que ambas as equipas tiveram neste aspecto em vários momentos do jogo. O lado emocional é, de resto, quase a única variante que explica as variações que se assistiram no jogo, com os golos a terem um efeito altamente relevante no comportamento dos jogadores nos minutos seguintes. Primeiro, o golo inaugural, num erro lamentável de Cech, não só pela forma como abordou o cruzamento mas pela deficiente orientação dada ao homem que está a fazer oposição à cobrança de Fábio Aurélio. Esse golo fez o Liverpool acreditar e tornou Cech num elemento altamente intranquilo na partida. O Chelsea encolheu-se e só por muito pouco não acabou em desvantagem na eliminatória no primeiro tempo. Depois, numa segunda parte potencialmente mais equilibrada, criou-se novo desequilíbrio emocional mas no sentido oposto. O golo de Drogba deu ao jogo um cenário oposto, com o Chelsea, agora sim, a controlar devidamente o jogo, mais agressivo a reagir e a pressionar e mais incisivo nos momentos de transição perante um Liverpool incapaz de se impor no jogo. Daí a reviravolta. Depois da oscilação emocional entre a primeira e segundas partes, veio a loucura total nos minutos finais do jogo, com o Liverpool a ganhar nova vantagem com 2 golos consecutivos. O jogo ficou completamente aberto e imprevisível e foi o Chelsea quem, tal como em Anfield acabou por ser mais feliz. Podia muito bem ter acontecido ao contrário...

O novo Chelsea
Este jogo pode ter sido sensacional para quem assistiu mas do ponto de vista do Chelsea terá sido um sofrimento no mínimo dispensável. É certo que o Liverpool teve um excelente comportamento e que tem uma grande equipa, mas a este nível exige-se mais consistência, mais rigor e maior controlo táctico e emocional. Uma coisa é sofrer 4 golos num jogo em que se é obrigado a arriscar, outra é poder sofrer 2 golos e ser-se tão permeável. A este nível, diria, é um mau pronuncio.

Tacticamente o Chelsea não difere muito dos anteriores, havendo algumas nuances relevantes como o papel de Lampard, claramente mais próximo de Drogba, deixando Ballack para um posicionamento muitas vezes quase a par de Essien. O que se percebe é que esta equipa não tem um grande nível de concentração defensiva e que está muito mais vulnerável ao erro do que no passado. Por outro lado, o seu bloco defensivo parece muitas vezes permeável, demorando a reagir tacticamente e permitindo que a bola chegue com anormal facilidade às zonas de finalização.

Tudo isto poderá ser um indicador francamente negativo para a meia final com o Barcelona. Contra o Barça a consistência defensiva é fundamental perante uma equipa que apresenta tanta dinâmica em posse. O Chelsea pode ter capacidade mais do que suficiente para fazer golos aos catalães e até tem uma grande vantagem nas bolas paradas, mas será praticamente impossível pensar em vencer a eliminatória com tanta incapacidade para controlar o jogo, quer táctica, quer emocionalmente.


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