11.9.08

Portugal - Dinamarca: Sem sorte nem perdão

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Ontem relembrei um jogo inesquecível pelo seu simbolismo. Não sei o que é que, simbolicamente, este jogo irá representar na história da Selecção, mas, certamente, partilhará o carácter inesquecível do outro Portugal Dinamarca de 96.

1ªParte
Para a partida a Dinamarca trouxe uma proposta de jogo interessante que causou muitos problemas a Portugal no primeiro tempo e que enriqueceu de sobremaneira o interesse do jogo nesse período. A ideia era impedir que Portugal fizesse uso da posse de bola para se apoderar do domínio do jogo e, para isso, foi usada uma pressão alta que tentava incomodar o jogo luso desde a sua saída de bola. Nesta estratégia de pressão havia dois aspectos essenciais. O primeiro tem a ver com a acção dos alas, encarregues de defender ao longo de todo o corredor e, o segundo, com a missão de Tomasson que encostava aos médios centrais, tentando corrigir a vantagem numérica que Portugal tinha na zona central. Portugal demorou muito tempo a adaptar-se a esta realidade, começando por recorrer a um jogo mais directo que, claramente, não sabe protagonizar (foi assim que se criou a perda de bola que resultou no primeiro “susto” de Bendter). Com o passar dos minutos, Portugal passou a circular mais mas nem sempre o fez da melhor forma. Perante uma pressão alta e larga convinha tentar usar o corredor central para fazer a bola chegar ao espaço entre linhas. Portugal fe-lo pouco, procurando em demasia a saída pelos flancos onde os dinamarqueses encurralavam sempre o jogo. Valeu a Portugal a sua qualidade técnica para criar alguns desequilíbrios (Deco!) que conseguiram, aqui e ali, ultrapassar o pressing contrário. Foi precisamente pela qualidade (e curiosamente numa jogada pelos flancos) que Portugal chegou à vantagem, à beira do intervalo para onde foi com um resultado bastante bom tendo em conta uma primeira parte com muitas dificuldades causadas pelos dinamarqueses que, pelo seu lado, até tiveram as melhores ocasiões para marcar.

2ªParte
Se a primeira parte foi difícil e feliz, a segunda foi precisamente ao contrário. Com a missão de recuperar da desvantagem os dinamarqueses não souberam assumir o jogo, nunca revelando qualidade para causar problemas a Portugal. Por outro lado, criavam-se agora mais espaços na defensiva dinamarquesa, compondo um perfil de jogo totalmente favorável às pretensões portuguesas que poderiam e deveriam ter acabado com o jogo bem cedo no segundo tempo. Aos 52’ por Simão, aos 55’ por Nani, aos 73’ por Danny e aos 76’ por Nuno Gomes, Portugal esbanjou. O futebol tem várias histórias deste tipo para contar e, desta vez, não foi modesto em criatividade! Portugal começou por permitir que o jogo se partisse – o que pretendiam os dinamarqueses – e foi apanhado em igualdade numérica numa transição que deu origem ao 1-1. Um pecado imperdoável não fora, um minuto volvido, o penalti convertido por Deco. O que se assistiu a seguir é difícil de explicar. Um capricho cruel do futebol, é verdade, mas que, a este nível, dê por onde der, simplesmente não pode acontecer.

Notas finais:
- Dir-se-á que Portugal jogou bem e não teve sorte. Será uma meia verdade. Se no segundo tempo foi penalizado pela falta de eficácia, no primeiro tempo Portugal pareceu pouco preparado para o que fizeram os dinamarqueses. Como lições finais devem ficar, não só, a falta de concentração e eficácia do segundo tempo, mas também muito do que aconteceu nos primeiros 45 minutos. É que se Portugal tivesse chegado ao intervalo a perder, não escandalizaria ninguém.

- As bolas paradas. Não foi só o 2-2. Foram vários os lances em que Portugal abanou, começando por 2 ocasiões no primeiro tempo em que surgiu sempre um jogador sem marcação. Pensar que o problema é do guarda redes ou do método é uma bela forma de não ver o problema.

- O guarda redes. É uma posição cada vez mais exposta e ingrata. Ricardo foi feito vilão e, num 8 e 80 tão típico no futebol, fez-se da titularidade Quim uma panacéia para todos os males. Espero que a “era-Quim” seja pautada por mais racionalidade porque a pressão será sempre mais prejudicial do que benéfica.

- Individualmente o destaque vai, claro, para Deco – haverá alguém melhor na sua posição neste momento? De resto nota para alguma dificuldade dos outros 2 médios em contribuir para um maior controlo da zona central (que deveria ter existido de forma mais clara sobretudo no primeiro tempo) e para Hugo Almeida, melhor a cair nas alas do que a oferecer linhas de passe como pivot. Finalmente, e correndo o risco de ser um “totobola de segunda feira”, era necessário mais altura naqueles minutos finais em que iria haver um assalto aéreo dinamarquês. Talvez Moutinho não fosse a solução para aquele momento...

- O estado de graça de Queiros acaba de forma quase cruel. O seleccionador joga neste apuramento muito da sua reputação enquanto treinador principal e, claramente, uma não qualificação, poderá ser um embaraço irreparável. Como o próprio referiu, resta cumprir a obrigação de recuperar estes pontos fora de casa, mas, como parece agora bem mais claro, mais importante do que a conferência de imprensa é mesmo o que se passa dentro de campo.

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