16.9.08

Nápoles: O despertar do gigante do Sul de Itália?

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O timing desta análise não é inocente, claro, e surge pelo interesse em fazer uma antevisão do que poderá encontrar o Benfica na primeira eliminatória da Taça Uefa.

Começo para falar do Nápoles enquanto clube. Todos conhecem o clímax “Maradoniano" da sua história como excepção positiva de um historial algo modesto. Pois bem, dir-se-ia que o que se estranha é todo esse período “extra-Maradona”. É que tanta modéstia não bate certo com a paixão de uma massa adepta que se diz poder estar próxima dos 5,5 milhões, a terceira maior de uma das mais ricas ligas da Europa.Este é, por isso, um gigante verdadeiramente adormecido e que tenta pela mão do produtor de cinema De Laurentiis encarrilhar finalmente numa performance desportiva coincidente com a dimensão da sua massa adepta.

Pois bem, o Nápoles prepara-se para receber o Benfica no seu melhor momento desde há muito. A entrada na Série A valeu já 4 pontos que são particularmente relevantes se tivermos em conta que foram conseguidos à custa de um empate no Olímpico frente à Roma e uma vitória na recepção à Fiorentina. Mas talvez mais importante do que os pontos será mesmo o nível futebolístico que este Nápoles tem apresentado. Trata-se de uma equipa muito bem organizada, com alguns valores individuais que podem fazer a diferença e que tem na sua consciência táctica a principal virtude. Trata-se de uma característica muito própria das equipas italianas e em que o Nápoles se tem revelado particularmente hábil neste inicio de época. A equipa reage aos diversos momentos do jogo com grande consciência e organização, sendo revelador o facto de ter estado a perder ao intervalo em ambos os jogos e, no caso do encontro com a Roma, ter mesmo jogado mais de 30 minutos com menos uma unidade. Nota, para terminar, para o mau estado do relvado do San Paolo, levantando muito e sendo susceptível a quedas.

Sistema táctico e opções
O 3-5-2 é o sistema de Edoardo Reja, mas este esqueleto é tudo menos rígido, sendo muito adaptável pela cultura táctica dos jogadores. Na baliza o experiente Iezzo de 35 anos assume a titularidade sendo um caso curioso porque vem desde a Serie C com o clube. A defesa é composta por jogadores com muita experiência de Seria A. O capitão Paolo Cannavaro é o capitão e líder. Mais alto do que o irmão mais velho (quase 10 centímetros!) impõe uma presença mais física mas esse é o único ponto em que ganha ao campeão do mundo. Ao seu lado jogam o combativo e Matteo Contini (28 anos) e o italo-brasileiro Santacroce (22 anos). As alternativas podem ser o ex-Palermo Rinaudo ou Salvatore Aronica. Nas alas, à esquerda Luigi Vitale (20 anos), produto da formação do clube e uma das sensações neste inicio de temporada depois de uma época emprestado. À direita Christian Maggio (26 anos) é uma das pedras fundamentais da dinâmica da equipa. Os médios são Blasi (28 anos), o promissor eslovaco Marek Hamsik (21 anos) e o uruguaio Walter Gargano (24 anos). Como opções destaque para Piazienza, um ex-Fiorentina que custou, só, 5 milhões de euros no defeso. Finalmente na frente a dupla argentina formada por Ezequiel Lavezzi (23 anos) e German Denis (27 anos), surgindo o experiente uruguaio Marcelo Zalayeta (29 anos) como alternativa a ter em conta.

Como defende?
À semelhança de muitas equipas italianas, o Nápoles sente-se claramente melhor num bloco mais baixo, definindo uma zona de pressão mais próxima da sua área. Esta é a forma de defender na sua proposta original de jogo, podendo depois, e em caso de necessidade no jogo, subir um pouco mais as linhas e pressionar um pouco mais sobre a linha média. Em transição o princípio passa prioritariamente por se recompor defensivamente, pressionando apenas com os homens dianteiros. Esta não é uma equipa que se desequilibra com facilidade, até pelos 3 centrais, mas sente-se os seus jogadores denotam mais dificuldade quando são confrontados com transições rápidas dos adversários.

Nota para alguns comportamentos defensivos. (1) a diferença entre os alas, com Vitale mais defensivo em relação a Maggio. Este aspecto faz com que, por vezes, apareçam 2 linhas de 4, com Vitale a juntar-se aos 3 mais recuados e Maggio aos 3 do meio campo. Outra consequência da proximidade de um central à direita é a perda de controlo sobre a velocidade adversária. (2) Gargano junta-se a Blasi e Hamsik, formando uma linha que tenta dar maior capacidade à equipa de defender em largura. (3) os avançados, Lavezzi e Denis são claramente libertos de funções defensivas em zonas mais recuadas para poderem, depois, serem rapidamente lançados em transição.

Como ataca?
O complemento da tal defesa mais baixa na proposta original de jogo é, claro, uma saída em transição rápida e muito perigosa. A ideia é fazer a bola entrar preferencialmente em Lavezzi que normalmente vem ao espaço entre linhas para depois aplicar os seu temível drible em progressão. Maggio é também muito importante a dar rapidamente largura ao ataque, enquanto que Hamsik é quem aparece sobre a esquerda, sendo no entanto muito mais temível na forma como ataca as zonas de finalização (normalmente num movimento cruzado e coordenado com Denis). Blasi é sempre o jogador mais posicional.

Em organização ofensiva, destaque para Gargano que é o “pensador” da equipa. Com excelente capacidade de passe (muitas vezes solicitando as costas da defesa contrária) é um elemento fundamental da estratégia ofensiva da equipa dando outra qualidade ao jogo sempre que ele passa por si. Quando o jogo se torna mais rápido e assente em transições torna-se, claro, mais difícil o seu aparecimento.

Treinador
Edoardo Reja – Está hoje, aos 62 anos, a viver o ponto alto da sua carreira. Depois de vários anos entre diversos emblemas de segundo plano (sobretudo na Serie B), teve a oportunidade de pegar no Nápoles em 2005, mas na Série C. O que fez Edoardo Reja foi suplantar as melhores expectativas de quem nele apostou, subindo consecutivamente até à Serie A e, agora, chegando até à Taça Uefa. Dê por onde der os Napolitanos dificilmente se esquecerão deste treinador com um visual à Hector Cuper.
5 estrelas
Christian Maggio (ala direito, 26 anos) – Foi a grande aquisição do Verão do Nápoles, contratado à Sampdoria por 8 milhões de euros. Dá à ala direita uma grande vivacidade, pela velocidade, técnica mas também pela rapidez com lê o jogo e ataca os espaços, característica que lhe vale uma boa percentagem goleadora e chegada à zona de finalização. O facto de ter sido considerado como uma possibilidade para o Euro diz tudo sobre o seu valor.

Walter Gargano (médio centro, 24 anos) - É o jogador que mais e melhor pensa o jogo na equipa, mas não é um 10 “à antiga”. O jogo e o colectivo exige dele entrega defensiva e rapidez no reposicionamento táctico e ele revela-se muito competente nessa missão mesmo se se sente que é com a bola nos pés que melhor se sente. Também pode actuar como interior direito.

Marek Hamsik (médio interior esquerdo, 21 anos) – Um nome a acompanhar no futuro. Bom tecnicamente (executa com os 2 pés) e muito rápido em transição, é forte na criação mas destaca-se dos demais pela notável capacidade para aparecer em zonas de finalização. Quando surge um cruzamento aparece de trás atacando invariavelmente o poste que Denis deixa livre. Já fez 2 golos na Serie A.

Ezequiel Lavezzi (avançado móvel, 23 anos) – Depois de uma época de afirmação, iniciou 08/09 numa forma impressionante tornando os 6 milhões de Euros pagos por ele numa verdadeira pechincha. Sem bola parece tímido, quase sempre cabisbaixo, mas quando ela lhe vem aos pés ele mostra o quão extrovertido o seu futebol pode ser. Veloz e explosivo, destaca-se sobretudo pelo seu drible curto e desconcertante, sendo capaz de tirar vários adversários na mesma jogada e sempre em progressão. É inequivocamente a estrela da equipa.

German Denis (avançado, 27 anos) – Depois de se ter tornado no melhor marcador na Argentina pelo Independiente justificou um investimento importante do Nápoles que aposta muito nele para ser o complemento de Lavezzi. A sua adaptação à Europa ainda se encontra em marcha e não será fácil tornar-se numa grande mais valia. Apesar de ter como alcunha “El Tanque”, não é tão fácil impor-se pelo físico no futebol italiano e diria que a sua principal virtude está na qualidade com que se movimenta na frente de ataque. Se conseguir juntar a esta característica alguma inspiração na finalização pode então recuperar a veia goleadora em solo europeu.

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