19.5.08

Notas da Final da Taça

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Sporting 2-0 Porto
(resumo)
- Não deixei aqui a antevisão da final, mas se me perguntassem o que esperava deste 6º duelo entre o Porto de Jesualdo e o Sporting de Paulo Bento diria que o balanço do equilíbrio do jogo se decidiria entre a capacidade que o Sporting demonstrasse no seu momento defensivo e a resposta que o Porto desse à caótica performance frente ao Nacional, sobretudo no aspecto da concentração competitiva. Depois do jogo, julgo que esta ideia não estaria errada.

- Precisamente, da perspectiva do FC Porto, o jogo terá começado um pouco à imagem desse último embate da época no Dragão. Erros em posse de bola e uma agressividade e concentração impróprias para o embate começaram por determinar o período mais desequilibrado do jogo, com o Sporting a não chegar à vantagem nessa altura por apenas pelo mérito e inspiração de Nuno. Destaque no primeiro lance de Derlei na cara do guarda redes portista para a perda de bola de Quaresma quando veio participar na primeira fase de construção ofensiva – algo que já aqui abordei mais alongadamente.

- A verdade é que os dragões escaparam a essa sua errática entrada na final e progressivamente foram equilibrando as operações. Jesualdo voltou a inovar em jogos com o Sporting. A sua preocupação com os equilíbrios no meio campo tornou
a ser decisiva para a composição do onze. João Paulo foi a solução para a lateral esquerda, tendo como objectivo a introdução de um jogador mais posicional para libertar mais a participação de Fucile na "luta" de meio campo, fazendo o jogo descair para o seu flanco direito (algo que já havia sucedido em Alvalade, mas com o sobrepovoamento da faixa esquerda, com Cech a ser na altura a novidade). A complementaridade desta estratégia foi Mariano, um jogador com mais características para auxiliar no processo defensivo, algo importante tendo em conta o posicionamento muitas vezes adiantado de Lucho no pressing. A estratégia passaria, creio eu, por atrair o losango leonino para junto da lateral, fazendo depois a bola sair da zona de pressão, aproveitando o espaço no lado contrário, num movimento que cria muitas dificuldades à forma de defender do Sporting. O facto é que isso não resultou e daí se explica a pouca capacidade de desequilíbrio do jogo portista no jogo – no primeiro tempo apenas uma grande ocasião para os dragões, provocada por uma jogada individual de Mariano, mas onde há muito demérito do Sporting, ao consentir uma série de dribles naquela zona do campo.

- Se no primeiro tempo – e depois do Porto ter finalmente “entrado” na partida – o jogo foi muito preso pela incapacidade de ambas as posses de bola em superar os pressings adversários, havendo uma já habitual e compreensível cautela, com o jogo directo a ser o recurso assim que a pressão adversária se torna ameaçadora, depois do intervalo houve algumas diferenças. Sempre em toada repartida e nunca sem que nenhuma das equipas perdesse realmente o controlo do jogo, houve mais espaços no meio campo, mais distância entre ambas as linhas recuadas e, por tudo isto, mais lances junto de ambas as áreas. Este equilíbrio durou até à expulsão de João Paulo – nota aqui para a memória da entrada de Fucile frente ao Schalke. O Porto não teve muitos momentos de descontrolo a este nível, mas em 2 jogos decisivos, foi penalizada por atitudes individuais irreflectidas.

- Depois da expulsão, evidentemente, o jogo mudou as suas coordenadas. O Porto fez o que lhe competia, recuando o bloco, face a uma assumida incapacidade de ser eficaz no primeiro momento de pressão, sob pena de perder equilíbrio defensivo. A estratégia não passava apenas por defender, mas por atrair o centro do jogo para zonas mais recuadas, libertando espaços que pudessem ser depois aproveitados por transições agora mais individualizadas e que tinham Quaresma e Lisandro como referência. O Sporting, por seu lado, entrou na sua fase de maior incapacidade. Primeiro mantendo o esquema, depois alterando-o e introduzindo mais uma unidade na frente. O problema, no entanto, não estava em disposições tácticas, mas antes na lucidez que os jogadores não revelavam na gestão da posse de bola. Pouca paciência e pouca imaginação resultavam, ou em tentativas de meia distância, ou em fazer a bola chegar previsivelmente aos flancos, de onde resultavam cruzamentos largos ou perdas de bola por acções individuais. Até ao primeiro golo, duas ocasiões sobressaíram. Uma para o FC Porto, com Quaresma a não conseguir finalizar da melhor forma um lance individual na sequência de uma primeira bola aérea ganha por Kazmierczak. A outra para Tiuí, na sequência de um regresso de Pedro Emanuel ao inicio errático de jogo, com uma oferta pouco compreensível. O golo surgiu pouco depois do lance de Quaresma, numa jogada em que o Sporting tentou uma opção diferente para o que havia feito na última meia hora, com um passe interior de Romagnoli, mas onde há igualmente alguma permissividade portista, particularmente do acompanhamento feito a Tiuí.

- Nota final para o FC Porto. Se a composição deste colectivo e do seu sucesso tem um mérito e uma chancela muito clara de Jesualdo, esta final e a forma como foi preparada tem muito de responsabilidade do treinador. O Porto teve todas as condições para preparar da melhor das formas esta final. A verdade é que a equipa foi perdendo ritmo competitivo e isso havia sido notório frente ao Nacional, com Jesualdo a ter, na minha perspectiva, uma opção duvidosa ao abdicar dos titulares frente à Naval depois desse descalabro. No caso dos jogos a meio da semana é compreensível, mas com 1 jogo por semana não se justifica tanta prudência. O Porto poderá ter recuperado fisicamente, mas perdeu ritmo competitivo e a sua exibição ficou sempre aquém do que havia revelado ao longo da época. Outro aspecto estranho e que revela alguma displicência em relação a esta final é a forma como o negócio de Bosingwa foi apressado. Se fosse noutro clube, estou certo, dir-se-ia que "no Porto não era possível". Individualmente, destaco o jogo mau de Pedro Emanuel, mais uma evidência do actual desenquadramento de Quaresma a funções longe da linha e, para além da exibição esforçada de Meireles, o inevitável Lucho, que apesar de uma entrada menos conseguida e de algumas opções erradas, voltou a ser o elemento fundamental do Porto, pela importância, qualidade e inteligência dos seus movimentos.

- Nota final para o Sporting. A vitória do Sporting, e apesar do rendimento mais fraco do Porto, só é possível por um crescimento da capacidade defensiva leonina neste final da época. Aliás, fui diversas vezes dando conta dessa melhoria após a entrada num ciclo de apenas 1 jogo semanal. Aqui fica, para mim, mais uma evidência da dificuldade do Sporting em fases de maior densidade competitiva. Este crescimento do Sporting permitiu-lhe, primeiro, controlar o jogo e depois tirar partido dos momentos erráticos do seu adversário. Não foi um vencedor inevitável, mas foi bem mais merecedor do que, por exemplo, no jogo de Alvalade frente a este mesmo FC Porto – aí sim, sem capacidade para controlar o adversário. Individualmente, nota para 2 jogadores. Derlei. Foi, para mim, o melhor em campo do Sporting. Forte no pressing, no apoio interior, nas primeiras bolas aéreas e na movimentação na zona de finalização. Tiuí. Não é um grande jogador, evidentemente, mas o que se tem dito dele é profundamente exagerado. Foi, na minha perspectiva, uma contratação acertada e útil pelo momento e pelo perfil que tem. Obviamente que não é um fora de série, mas não teve também esse preço financeiro. Com 22 anos é um jogador de plantel cujas características se integram no modelo de jogo da equipa. Errada foi a aquisição de Purovic, Tiuí é apenas a rasura possível.

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