22.5.08

Final Champions League: A terceira do United

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Man Utd *1-1 Chelsea
(resumo)
As estratégias tácticas
Talvez se esperasse um jogo mais ao estilo das meias finais, com muita contenção posicional, sobrepovoamento do meio campo e uma espécie de duelo mental para ver quem seria o primeiro a errar. A verdade é que o jogo não foi ao encontro desta expectativa e, se é verdade que o Chelsea apresentou desde o inicio um pressing que não se limitava a esperar pelo seu adversário, a grande nuance táctica que contribuiu para esta maior abertura do jogo esteve na estratégia escolhida por Alex Ferguson. Optar pelo 4-4-2 clássico não significava forçosamente perder a batalha do “miolo”, mas exigia a introdução de algumas preocupações que pudessem contornar a desigualdade numérica que, no papel, os esquemas em confronto poderiam fazer antever. É precisamente por aqui que se explicam as diferenças no balanceamento de jogo entre o primeiro e segundo tempos... mas já lá vamos.
O principal problema do United residia na superioridade que Makelele poderia provocar. Quando a bola entrava no veterano francês este tinha dois médios adversários à sua frente e dois da sua própria equipa. Se a pressão se fizesse através de Scholes ou Carrick, uma linha de passe abrir-se-ia e era por isso que para Ferguson a missão de Tevez em “apertar” de imediato Makelele era fundamental em termos defensivos. Em termos ofensivos, o United precisava de apelar à mobilidade de Tevez, Rooney e Ronaldo para que Makelele não dominasse uma zona onde naturalmente não caía nenhum médio adversário. Mas sendo a mobilidade um princípio já característico dos “Red Devils”, essa preocupação não seria propriamente um problema.

Primeira Parte
No primeiro tempo o United interpretou muito bem estas exigências tácticas e, se é verdade que não houve grandes desequilíbrios nos primeiros 25 minutos, também se pode dizer que foi sempre a formação de Manchester a ter um ligeiro ascendente, sobressaindo as movimentações de Tevez e Rooney, o notável papel de Hargreaves sobre a direita e a inspiração de Ronaldo, quer a aparecer no espaço entre linhas, quer a protagonizar duelos com Essien que evidenciou aí a sua dificuldade no 1x1 naquela posição. Ronaldo, o próprio, marcaria num lance que se iniciou num lançamento lateral e que o português aproveitou para tirar partido da má abordagem de Essien (tinha, pelo menos, de ter saltado). Se o Chelsea confirmou a intenção de subir no jogo, foi o United quem melhor esteve até ao final dos 45 minutos, desperdiçando duas transições exemplarmente protagonizadas por um ataque que sabe como nenhum outro aproveitar os momentos em que se lhe é dado espaço. Tevez e Carrick não aproveitaram e o preço foi pago numa factura bem dispendiosa. Mesmo antes do intervalo, Lampard tirou partido de um lance de alguma fortuna, mas que ilustra, por um lado, o sentido de oportunidade de Lampard, e por outro, a notável utilidade que Essien dá ao sector intermediário (o ganês criou frequentemente superioridade nessa zona, principalmente no segundo tempo, onde apareceu em muito bom plano nos aspectos ofensivos).

Segunda Parte
A situação fez-me recordar a felicidade do auto golo de Riise à beira do ponto médio da eliminatória das meias finais e, tal como acontecera na segunda mão desse embate com o Liverpool, também em Moscovo o Chelsea deu sequência ao momento de felicidade com uma fase de superioridade sobre o seu adversário. É que para os segundos 45 minutos, as cabinas foram muito mais benéficas para os “Blues”. O United foi para o intervalo a pensar ter descoberto um ponto de superioridade no jogo: a exploração do 1x1 com Essien. A sua posse de bola no segundo tempo passou a orientar-se para Ronaldo mas essa opção revelou-se uma ilusão. Alertada para a situação, a equipa do Chelsea passou a juntar Ballack à dupla Cole-Essien que travava um duplo duelo com Ronaldo e Evra. Não se pode dizer que fosse absolutamente eficaz, porque a qualidade dos 2 jogadores do United acabaria por conseguir alguns desequilíbrios, mas Ronaldo passou a ser confrontado com uma permanente desigualdade numérica que prejudicou a sua exibição e as potencialidades de um United que, paralelamente, se passou a revelar pouco paciente e imaginativo em relação às outras soluções. Por outro lado, o Chelsea passou, ele próprio, a tirar melhor partido da tal superioridade no “miolo”, com os movimentos de Joe Cole e Malouda a oferecerem mais linhas de passe à construção. A verdade, porém, é que o ascendente do Chelsea teve pouca tradução em oportunidades reais até aos 70 minutos.
Foi por volta dessa altura, dos 70 minutos, que se viu Rooney a receber instruções de Ferguson e a responder para os companheiros com uma mão aberta a indicar “5”. 5 homens de meio campo a partir daí, queria ele dizer. Hargreaves juntou-se a Carrick e Scholes e Rooney passou a fechar sobre a direita. Ferguson esperara 25 minutos até decidir que os seus ajustes tácticos já não estavam a ser bem interpretados e o jogo voltou a equilibrar-se. Ainda assim, foi o Chelsea a manter-se mais esclarecido em posse de bola, desfrutando, curiosamente, da sua melhor oportunidade até aos 90 minutos, depois deste reajustamento táctico de Ferguson: a meia distância ao poste de Drogba.

Prolongamento
Mais divididos e sem desequilíbrios de relevo, os 15 minutos finais conduziram a um provável prolongamento. Aí o jogo não alterou a sua toada e, se logo no inicio foi Lampard a estar perto de conseguir um golo notável, pela rapidez com que rodou e rematou, numa jogada que resulta – tal como acontecera no golo do United – de um lançamento lateral, pouco depois seria a vez do United a estar perto do golo. Ao centésimo minuto Giggs teve nos pés a mais clamorosa e, acrescentaria, imperdoável perdida do jogo. A construção desse lance resulta do último detalhe táctico de relevo que julgo não ter tido maior expressão pelo cansaço que já se apoderara dos jogadores. No inicio da jogada, Evra antecipa-se a Anelka que entrara poucos minutos antes para o lugar de Joe Cole. A acção defensiva de Joe Cole foi, como referi atrás, muito importante e estou em crer que Anelka nunca teria a mesma eficácia no acompanhamento a Evra. O lateral aproveitou esse lance, mas o United já não tinha nem pernas nem lucidez para tirar maior partido dessa debilidade do Francês e o jogo caminhou para os penaltis, sem que a expulsão de Drogba tivesse algum impacto real na partida.

Penaltis
Sobre os penaltis começo por dizer que os acho muito ingratos, sobretudo duma perspectiva histórica. Mais vale justificar um vencedor ingrato com a crueldade natural do futebol do que ficar na história uma decisão por um método que, por mais que se diga que não, tem muito de aleatório.
Os penaltis começaram um pouco antes da marcação de Tevez. Anderson e Belleti entraram mesmo antes do final dos 120 minutos para que pudessem contribuir no desempate final e não, como se chegou a ouvir, por qualquer tentativa de perda de tempo de ambos os treinadores. Finalmente, um pormenor: todos os penaltis do Chelsea foram cobrados para a esquerda de Van der Sar, menos o... de Anelka.

Ronaldo
Deixo um comentário individual à prestação de Ronaldo, por todo interesse que esta final gerava em torno do jogador. Foi nomeado MOM pelos adeptos no site da Uefa mas acho a distinção exagerada. Talvez tenha sido o melhor do primeiro tempo, por ser o elemento mais desequilibrador nesse período, mas caiu no resto do jogo. Se tacticamente já expliquei a minha visão do porquê desta queda, junto que o próprio Ronaldo teve nela alguma responsabilidade. Há vezes em que o drible está condenado ao fracasso e Ronaldo devia ter percebido isso quando tinha 2 ou 3 jogadores pela frente. É uma situação que o próprio deve corrigir com o tempo e que – não posso deixar de referir – é bom que Scolari antecipe, porque vai repetir-se no Euro, sendo necessário que o colectivo tenha rotinar que contornem e tirem partido da situação. Finalmente, tirar mérito a Ronaldo pelo penalti falhado é, para mim, absurdo (não é preciso sequer lembrar que jogadores falharam mais do que uma vez neste tipo de situações). Ronaldo não fez uma exibição épica, é certo, mas esteve em muito bom nível e se há jogador a quem a história ligará esta final pela positiva, esse jogador é Cristiano Ronaldo.

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