10.5.08

Apito Final

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- Começo por referir que estas notas serão claramente escassas para tudo o que se poderia discutir sobre este processo. No entanto, não sou nem pretendo ser um especialista neste tipo de matérias que, aos meus olhos, deveriam ser, no máximo, paralelas ao fenómeno futebolístico. Por isso opto por manter-me, dentro do que é possível, ao lado deste caso. Ainda assim, a sua importância é inegável e, como apaixonado pelo futebol, não evito retirar algumas conclusões que, para mim, são muito claras.

- Dia 9 de Maio de 2008 fica como uma data histórica do futebol português. Não pelas consequências desportivas das decisões, que apenas no caso do Boavista poderiam ter algum impacto relevante, mas o facto de, no mesmo dia, a direcção do clube se ter demitido em bloco por motivos que não estão relacionados com este caso, diz tudo sobre a irrelevância relativa destas decisões para o futuro do Boavista. A importância surge, antes sim, pelo facto de se ter reconhecido desportivamente que houve casos de corrupção (ou, se quisermos, tentativa de), o que é uma novidade no nosso futebol. Curiosamente, a sensação que se tem destas decisões é que a Liga se sai aliviada por ter “despachado” o assunto sem ter passado ao lado do mesmo. Ao contrário desta ideia, parece-me que a abertura deste precedente vai iniciar mais uma era de novas guerrilhas de bastidores que, seguramente, animarão o dia-a-dia de muita gente.

- Este foi um dia marcante, mais do que para os clubes envolvidos, para o futebol nacional. No entanto, a reacção do FC Porto, conhecida pela voz do seu Presidente transformou o FC Porto num claro perdedor neste caso. Não será um tema consensual entre os adeptos portistas – até porque estamos a falar numa divergência de opinião em relação à linha assumida pela direcção – mas parece-me um erro enorme a posição assumida pelo clube. De facto, o que está em causa para o FC Porto neste caso é muito mais do que um título ou a utilidade de 6 pontos. O aceitar da culpa só pode ser interpretado à luz de duas hipóteses, ambas pouco abonatórias para o próprio clube: (1) ou o FC Porto não considera ser possível defender-se desta acusação, ou (2) considera que a importância de ser dado, ou não, como culpado num caso de tentativa de corrupção não vale o risco de perder 6 pontos na próxima temporada. Assim, o que fica é uma enorme nódoa negra na história de um clube centenário que, para quem tem na ética e honra valores acima da própria prestação desportiva, vale muito mais do que a perda qualquer título ou, seguramente, 6 pontos. Nota ainda para aquilo que considero ser uma confusão perigosa. Pinto da Costa é a mais importante figura da história do clube, mas quando ele lá chegou o FC Porto já era um grande clube e quando ele sair continuará a ser por muitas décadas. A sua defesa pessoal não é a defesa do FC Porto. Quanto muito, seria ao contrário, porque quem deve ver o seu nome defendido é, em primeira instância, o clube, e não o seu Presidente...

- Finalmente, aquela que é a minha conclusão de há muito sobre este processo. Os casos desvendados pelas escutas telefónicas revelam comportamentos que considero altamente reprováveis e censuráveis numa competição desportiva que se quer sadia, envolvendo personalidades que vão para além dos visados nas sanções finais. Para além disso, estamos a falar de 1 ano, na era das novas tecnologias, numa história de mais de 70 anos de campeonatos em contextos bem mais favoráveis para protagonizar os tais comportamentos censuráveis. A partir daqui torna-se muito difícil acreditar na inocência histórica de qualquer clube que seja. Não diria que a conclusão é que o futebol português é uma história de mentiras, mas fica agora bastante claro que terá sido uma sucessão de verdades muito próprias.

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