28.4.08

Jornada 28

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Benfica 2-0 Belenenses
(resumo)
O Belenenses é indiscutivelmente um dos mais interessantes adversários que os “grandes” podem ter. Os seus jogos fazem-me aliás pensar o quanto melhor seria o campeonato se apenas tivessemos equipas com esta qualidade colectiva, mesmo admitindo uma possível menor valia individual. Enfim, são reflexões paralelas ao próprio jogo mas que ilustram o desafio que se colocava ao Benfica em jogo em que uma derrota poderia ter um efeito profundamente embaraçoso.
Tacticamente, Chalana não apresentou surpresas, fazendo Katsouranis subir para o meio campo e introduzindo Nuno Assis na direita do losango. Do lado do Belenenses, uma linha de quatro homens talvez tenha surpreendido quem esperava um losango, mas esta disposição garantia a Jesus um melhor comportamento defensivo, particularmente na cobertura da largura do campo.
O jogo começou com algumas dificuldades para o Belém nos primeiros 10 minutos. A posse de bola não foi isenta de erros e o Benfica, com a sua habitual mobilidade na primeira fase de construção, foi quem maior ascendente conseguiu, ainda que apenas por uma vez tenha incomodado Júlio César, com Rui Costa a aproveitar uma má leitura de Gavilan para criar um desequilíbrio. Neste período notou-se a tendência para o Benfica construir sobre a direita, fruto de uma maior propensão de Rui Costa derivar para este flanco (ao contrário do que vinha sendo habitual, devendo contextualizar-se a presença de Nuno Assis nesta opção). Rafael Bastos passou a baixar mais sem bola para dar mais presença numérica à meia esquerda.
Em posse de bola o Belenenses adiantava os laterais – alternadamente – dando ao trio Silas, Zé Pedro e Amorim a liberdade para aparecer no espaço entre linhas, ficando Gavilan mais posicional. Perante as dificuldades de Nuno Assis e Rodriguez na transição defensiva, criavam-se várias linhas de passe no espaço entre linhas e rapidamente o meio campo do Belém tomou conta do jogo. Dos 15’ aos 26’ o Belenenses dominou o jogo, não sendo suficientemente lucido no último passe para criar melhores condições para chegar à vantagem.
Aos 26’ o Benfica inverteu esta tendência com uma sucessão de lances de bola parada, num sinal de um aspecto que seria decisivo no jogo. O Belém não soube reagir e permaneceu por baixo no jogo após esse abanão. Neste período foi patente um aspecto altamente relevante no jogo: o jogo aéreo. As primeiras bolas pontapeadas por Quim eram invariavelmente ganhas pelos avançados – particularmente Nuno Gomes – conseguindo o Benfica sair a jogar a partir dessas situações e criando a sua melhor ocasião igualmente dessa forma. O golo, conseguido aos 41’, confirmaria essa incapacidade do Belém no jogo aéreo, não conseguindo resolver um lance onde teve franca superioridade numérica.
O 1-0 abriu uma nova que se estenderia até aos 64’. O Belenenses reagiu, tomou conta do jogo, sempre pela superioridade do meio campo e colocou a nu as dificuldades de recuperação do meio campo encarnado, criando situações mais do que suficientes para chegar ao empate. Tudo isto até à intervenção dos treinadores, com destinos drasticamente diferentes. A saída de Gavilan tirou equilíbrio a um meio campo que havia dominado o jogo e Di María ganhou, logo após a sua entrada, o livre que Cardozo transformaria. A execução foi, sem dúvida soberba, mas creio que se justificaria de Júlio César uma antecipação do destino do remate, o que não aconteceu.
O 2-0 foi um golpe duro para um Belenenses que reage muito emotivamente às incidências do jogo, tendo ficado perdido apesar dos 25 minutos que havia para jogar. A expulsão de Alcantara chegaria pouco depois, proporcionando um final de jogo descansado ao Benfica.
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No final uma vitória conseguida pela diferença na eficácia e com momentos oscilantes no jogo. O mais importante são, sem dúvida, os 3 pontos e mesmo sendo verdade que nem todos os adversários terão a mesma qualidade de jogo do Belenenses, fica a certeza de que não será com esta instabilidade defensiva que o Benfica terá assegurados os 6 pontos que lhe restam disputar. O passado recente aconselha: convém ver um pouco para além das vitórias para evitar problemas em jogos futuros...

Guimarães 0-5 Porto

Em termos de estrutura não houve surpresas de ambos os treinadores. No Guimarães, Cajuda colocou Moreno no lugar de João Alves, mantendo o habitual “duplo pivot” no meio campo. No Porto, mais alterações, destacando-se a inclusão de Bolatti no meio campo.
Mas não é em termos estruturais que surge o maior interesse na análise aos incidentes tácticos do jogo. A primeira parte revelou um Guimarães a pressionar alto – mais alto do que o normal – e a criar problemas ao primeiro passe do Porto. Do lado do portista, esta postura do Vitória expôs a falta de Lucho na dinâmica da equipa e, mais ainda, o desajuste de Bolatti às funções que lhe foram confiadas. De facto o argentino não criou linhas de passe, nem acompanhou Meireles nos habituais movimentos a dar elasticidade ao “miolo”, aparecendo sempre agarrado a Assunção. O trio da frente ressentiu-se desta situação e apareceu quase sempre demasiado desligado da restante equipa nesses primeiros 45 minutos. Numa primeira parte muito uniforme, o jogo foi permanentemente marcado por uma iniciativa de jogo do Porto, saindo a jogar curto, mas embatendo sempre contra o tal pressing do Vitória. Quanto ao Vitória, Nilson iniciava as suas jogadas com batimentos longos que resultavam em segundas bolas ganhas pelos 2 pivots do meio campo vimaranense, demasiado libertos com a “ausência” de Bolatti. O problema do Vitória foi a incapacidade de dar outra expressão ao seu jogo quando ganhava a bola. Os movimentos laterais de Ghilas foram sempre o único recurso tentado, mas sem qualidade suficiente para colocar em causa o controlo do jogo pelo FC Porto. Resultado: ao intervalo, um nulo sem desequilíbrios de registo.
No segundo tempo houve mudanças significativas no FC Porto. Jesualdo introduziu Kaz no lugar de Assunção e o meio campo ganhou outra capacidade, quer na posse de bola, quer na pressão sem bola. Mais, Hélton passou a bater bolas longas, com Kaz a fazer uma diferença total em relação ao que se viu no primeiro tempo. Finalmente, Quaresma passou a jogar mais declaradamente sobre a esquerda. O Porto passou a mandar no jogo, surpreendendo um meio campo do Vitória que não soube reagir às novas incidências do jogo, mantendo-se alto e expondo um grande espaço entre linhas que seria fundamental na construção da goleada (juntamente com erros de concentração individual que surgiram com os primeiros golos).
Cedo o Porto no segundo tempo chegou à vantagem, duplicando-a com a inspiração de Quaresma. É bom dizer-se que o Porto não havia justificado a vantagem em oportunidades quando a conseguiu, mas também, pelo que disse antes, seria muito provável que o fizesse, tal a inadaptação do Vitória às novas circunstâncias do jogo.
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O peso do resultado é, obviamente, produto de uma sequência de acontecimentos muito próprios, mas a equipa do Vitória poderia e deveria ter poupado os seus adeptos a um resultado histórico com estádio cheio. No Vitória, aliás, Cajuda arrisca ser vitima da crueldade do futebol. Com uma deslocação ao Restelo, abre-se a perspectiva do quarto lugar que, sendo naturalmente excelente, não é novidade na história do clube e acabará por saber a frustração, particularmente depois deste resultado embaraçoso.
No FC Porto, referir que a exibição não foi soberba, por tudo o que descrevi sobre o primeiro tempo. Mas também não se pedia isso ao campeão e a qualidade revelada foi, como é óbvio, mais do que suficiente. Notas individuais para (1) Bolatti: exibição preocupante tendo em conta o possível abandono de Assunção. Muito fraca mesmo. (2) Quaresma: parece que está num jogo de exibição. Claramente, dá-se melhor quando não se lhe pede que venha para zonas centrais. O problema é que a sua qualidade chega para, sem qualquer esforço, ser determinante em Portugal. (3) Bruno Alves: No passado apontei algumas lacunas a este jogador. Mantenho que tem aspectos que o tornam num central aquém do potencial de, por exemplo, Pepe, mas tenho de fazer justiça para referir a sua evolução. Tem hoje uma leitura muito mais adequada dos lances, jogando em antecipação, e tornou-se num dos mais fortes e impressionantes jogadores do mundo nas primeiras bolas aéreas (não tanto nos lances aéreos nas áreas, apesar dos golos recentes). Não é exagero!

Sporting 2-1 Marítimo
O jogo começou 0-1. No lance, um pormenor que evidencia a desconcentração de Polga e, principalmente, Patrício é o facto da bola ter vindo de Grimi e, por isso, ter de ser resolvida, ou pelo defesa, ou pelos pés do guarda redes, não se justificando a tentativa de agarrar a bola por parte do guarda redes.
O que se viu no seguimento do jogo foi, no fundo, o tónico que haveria de marcar grande parte da partida. Marítimo num bloco baixo e pouco perturbador para a primeira fase de construção do Sporting que, por seu lado, dominou sempre o jogo, revelando no entanto dificuldades em ser incisivo na última zona do terreno, perante a densidade de um bloco que defendeu bem em largura. No Sporting, e neste aspecto, destaque para a dificuldade de Djaló no primeiro tempo em ser útil ao jogo ofensivo dos leões. A verdade é que, sem grande esforço, o Sporting chegou à igualdade, num golo muito importante para o restabelecimento da estabilidade emocional dos jogadores.
Para o segundo tempo, o Sporting trouxe mais capacidade ofensiva, num registo que vinha já desde os últimos minutos do primeiro tempo, e que tinha, na qualidade de Veloso (uma exibição enorme!), na mobilidade de Romagnoli e Liedson, e no apoio dos laterais as suas principais armas. O golo surgiu, no entanto, de uma forma profundamente feliz e ainda cedo na segunda parte, entrando o Sporting depois no seu melhor período e onde poderia facilmente ter garantido a vitória. Assim não aconteceu e o jogo decorreu naturalmente até ao seu final, sem que o Marítimo ameaçasse realmente poder chegar ao empate (apenas uma finalização perigosa, na sequência de um lance de bola parada).
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Ao contrário do que se disse, parece-me que o Sporting terá feito uma das melhores exibições dos últimos tempos. Porquê? Porque ao contrário do que aconteceu, por exemplo, frente a Braga e Leixões, controlou sempre o jogo (algo que não acontecia há muito!). A sua transição defensiva foi eficaz, com destaque para o plano físico de Veloso e Izmailov, num nível muito acima do que vinha acontecendo. Resta, naturalmente verificar qual a real quota parte de demérito que deve ser atribuída ao Marítimo (algo que será testado nos próximos jogos), mas a confirmar-se esta melhoria defensiva, será uma óptima novidade para Paulo Bento.

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