6.3.08

Porto - Schalke: Análise cronológica

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0’ Do lado do Porto, o 4-3-3 mais utilizado na temporada com Tarik de regresso. Uma opção que me parece mais natural do que Farias, tendo em conta o maior tempo de trabalho com o marroquino no onze base. No Schalke, a opção pelo 4-4-2, sem Rakitic e Asamoah. O objectivo é introduzir um meio campo mais preenchido e capaz de fechar em largura, com uma linha de quatro homens nesse sector.

4’ Primeiro lance do Porto com remate de Bosingwa. O Porto entra com vontade de surpreender o Schalke, identificando os momentos de pressão a partir de zonas muito adiantadas, empregando agressividade. O Schalke aparece com um bloco baixo e denso que começa a defender a partir do meio campo. A intenção é controlar o Porto pela densidade numérica, tentando depois sair em transição, aproveitando eventuais erros e a exposição espacial portista. A posse de bola dos Alemães pretende ajudar o tempo a passar, mas a atitude inicial do Porto impede rapidamente que esta intenção tenha sucesso. No Porto, o 4-3-3 habitual apresenta um trio ofensivo muito móvel com os extremos a aparecerem por vezes em comum sobre a esquerda. Há a intenção clara de puxar o bloco alemão para a sua direita, abrindo um espaço onde aparece depois Bosingwa, que tem uma entrada eléctrica no jogo.

12’ A culminar uma fase de pressão sobre a área do Schalke, o Porto vai transformar uma sequência de cruzamentos e segundas bolas num sufoco de que resultam duas ocasiões de seguida. Primeiro, Lisandro na cara de Neuer, depois de uma “invenção” de Lucho à entrada da área e, depois, Tarik de cabeça a ver Neuer negar-lhe um golo feito com um desvio instintivo. A partir daqui o Porto vai permitir que o Schalke controle progressivamente o jogo. Alguns erros em posse de bola (muitas vezes fruto de alguma ansiedade em chegar rapidamente à frente) e uma crescente habituação do Schalke às circunstâncias do jogo fazem com que o Porto não volte a conseguir ser tão perigoso até ao intervalo, apesar de manter sempre o domínio e ascendente no jogo.

45’ 0-0 ao intevalo. Não deixa de ser interessante fazer uma comparação com o jogo e há quinze dias. Na altura a melhor entrada dos Alemães foi aproveitada com eficácia. O Porto respondeu bem no que respeita à entrada em jogo, mas... ficou em branco. Algo que se pode considerar decisivo no desfecho da eliminatória.

50’ Primeiro contratempo para o Porto. Lesão de Bosingwa. O Porto é obrigado a mexer numa peça muito importante do seu esquema. A intenção de deixar o corredor livre (jogando Tarik mais por dentro) para criar espaços para que o lateral utilizasse a sua velocidade foi a arma mais eficiente do ataque portista nos primeiros 50’.

54’ Notável trabalho de laboratório com o livre de Quaresma a servir Lucho e, depois, Tarik, que vem desde a barreira para aparecer na cara de Neuer. A defesa é milagrosa. Terceiro desperdício do Porto no jogo.

57’ Jesualdo completa a alteração de Bosingwa por Mariano, introduzindo Farias para o lugar de Tarik. O Porto passa a assumir uma postura de grande risco no jogo. Preenchendo toda a frente de ataque com Mariano à esquerda, Quaresma à direita e Farias a juntar-se a Lisandro no centro do ataque. Quando em posse de bola a equipa expõe-se posicionalmente com Meireles (agora a fechar a lateral esquerda) a aproximar-se de Paulo Assunção e Fucile a manter vocação ofensiva mas agora sobre a direita.
O Porto volta a empurrar o Schalke para próximo da sua área, utilizando a sua elevada presença numérica nas acções ofensivas para circular a bola a toda largura do campo. Os Alemães haviam entrado muito bem no segundo tempo, identificando momentos de pressão em zona mais subida e forçando alguns erros à posse de bola do Porto, parecendo ter intenção de discutir o jogo no campo todo.

64’ Grande ocasião para o Schalke. Um momento de pressão dos Alemães a precipitar um erro imperdoável em zona recuada que só não resulta em golo porque Hélton consegue defender (ainda que fora da área).

81’ Vermelho para Fucile. As aspirações do Porto na eliminatória ficam seriamente comprometidas com o prolongamento a ser o melhor dos cenários nesta altura. Sem querer crucificar individualmente, a prestação desastrada do Uruguaio tem um peso muito grande na eliminatória. Depois de uma entrada errática na primeira mão, com dificuldades posicionais e passes errados (um deles a originar a transição que resultou no golo do Schalke), Fucile voltava a repetir um jogo com um número elevado de erros, um dos quais – um domínio falhado sobre a direita – vai acabar numa perda de bola e na entrada que dá origem à sua expulsão.

85’ 1-0 para o Porto. Numa fase em que já não parecia possível, uma sequência de ressaltos leva a bola até ao momento de inspiração de Lisandro. O Porto empata a eliminatória quando menos se esperava e ganha uma importante vantagem psicológica que lhe vai valer o ascendente até ao final dos 90’. O problema está... na desvantagem numérica.

90’ Final do tempo regulamentar. O Porto termina com vantagem justa no jogo mas com um empate que sabe a muito pouco na eliminatória. Para o prolongamento vai a sensação de um Porto superior capaz de discutir o favoritismo até em vantagem numérica.

96’ Jesualdo troca Meireles – que actuava como lateral esquerdo – por Cech. A estratégica táctica de Jesualdo para os 30 minutos adicionais passou por dividir a equipa em 2 blocos. Recuando Mariano para defesa direito, refazendo o quarteto defensivo que actua com um duplo pivot à sua frente, formado por Assunção e Lucho. Na frente, o destaque vai para a opção estratégica de não fazer Quaresma defender, libertando-o para as transições. Mas a maior importância não está nesta fase nas opções tácticas mas sim na resposta dos jogadores a um momento de grande desgaste e intensidade emocional.
O jogo revela-se capaz de cair para qualquer lado, estando, naturalmente, mais aberto do que nunca. O Porto aparece com muita alma mas com o inevitável condicionalismo de ter menos um homem e é o Schalke quem, finalmente, controla a posse de bola.

101’ Grande ocasião de Quaresma. Erro do Schalke na saída de bola e Quaresma a aparecer na cara de Neuer que... voltou a defender.

120’ Fim do prolongamento sem golos apesar de ter havido boas possibilidades para ambos os lados. O Porto, ainda assim, pareceu sempre mais próximo durante esse período, apesar da desvantagem numérica.

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A eliminação explica-se, não por qualquer inferioridade do FC Porto, nem mesmo por qualquer falha em termos de estratégia táctica ou conhecimento do adversário (como se leu e ouviu após a primeira eliminatória). A eliminação explica-se sim, e na minha opinião, pela diferença de eficácia, em primeiro lugar. Depois há um aspecto que definiu o inicio de jogo na primeira mão e voltou a penalizar os Dragões na segunda. A concentração competitiva. Erros individuais pesaram no inicio do jogo na Alemanha e voltaram a marcar pormenores decisivos para a definição deste jogo. Um aspecto em que Fucile sai como réu principal e que, como havia dito, em alta competição se paga caro. O Porto mostrou mais qualidade mas, mesmo à margem da eficácia na concretização, errou também mais do que o Schalke.

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